INVESTIGAÇÃO

PRF afasta 23 policiais indiciados por operação com 26 mortos em Varginha

Polícia Federal disse ter encontrado uma série de irregularidades na ação, como tortura, homicídios e adulteração de provas

O Tempo/Gabriel Rezende
Publicado em 05/03/2024 às 08:11
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Centenas de marcas de tiro podem ser vistas nos dois sítios onde estavam os suspeitos em Varginha (Foto/Polícia Federal/Reprodução)

Centenas de marcas de tiro podem ser vistas nos dois sítios onde estavam os suspeitos em Varginha (Foto/Polícia Federal/Reprodução)

Os 23 servidores da Polícia Rodoviária Feral (PRF) indiciados pela Polícia Federal (PF) foram afastados das atividades operacionais e vão permanecer em funções administrativas “até a conclusão dos trabalhos correcionais”. Eles participaram de uma operação em conjunto com a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) que resultou na morte de 26 pessoas em outubro de 2021 em Varginha, no Sul do Estado. 

Conforme o relatório produzido pela Polícia Federal, há elementos que indicam uma série de irregularidades na ação, como tortura, homicídios e adulteração de provas. Os mortos pela polícia eram suspeitos de envolvimento em crimes do “novo cangaço”, prática conhecida como roubos a bancos altamente estruturados. 

Em nota, a PRF informou que a Corregedoria-Geral da instituição reabriu, “no âmbito administrativo, ainda em 2023, o procedimento apuratório frente ao surgimento de novas evidências”. Também destacou ter “compromisso com os limites constitucionais, incluindo o princípio da presunção de inocência dos agentes, a garantia ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa”.

Além dos policiais rodoviários federais, também foram indiciados pela Polícia Federal 16 policiais militares, que também participaram da operação. Em nota, a corporação afirmou que "a investigação do crime militar é de competência EXCLUSIVA da Polícia Judiciária Militar". 

Indiciamento da PF 

Ao indiciar 32 policiais, sendo 16 da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e 16 da Polícia Militar (PM), pela morte de 26 suspeitos durante uma operação em Varginha, no Sul de Minas, em outubro de 2021, a Polícia Federal (PF) apontou que laudos técnicos identificaram vestígios de adulterações nos cômodos dos dois sítios onde estavam os criminosos. A corporação destacou ainda que, após a morte dos criminosos, os agentes teriam socorrido os corpos para hospitais da cidade, também visando dificultar o trabalho da perícia técnica.

O inquérito policial, inclusive, traz anexado imagens de câmeras de segurança que mostram que os corpos foram transportados empilhados no compartimento de carga das caminhonetes. "No primeiro veículo que trouxe os sujeitos do Sítio 2, via-se policial sentado sobre os corpos, em condição incompatível com eventual a prestação de socorro", diz o documento.

Uma fonte diretamente ligada às investigações disse à reportagem que “está mais do que provado que foi uma chacina”. Com o indiciamento, cabe continuidade do caso pelo MPF, órgão que informou em nota que vai reabrir as apurações.

PF pode indiciar policiais militares pelas 26 mortes?

A partir de agora, cabe ao MPF avaliar a possibilidade de apresentação de denúncia com base nas provas colhidas e investigação própria. Em nota o órgão disse que vai avaliar possível retomada das apurações sobre o caso que estavam suspensas "aguardando o resultado das perícias criminais". Se o Ministério Público entender que cabe denúncia, o próximo passo é o julgamento em um Tribunal do Júri. Ao longo dos próximos passos, a própria Justiça pode entender que cabe à PM essa apuração e encerrar a investigação.

Relembre a operação

As forças de segurança começaram a investigar o grupo em agosto de 2021. No fim de outubro, após informações indicarem sobre um novo assalto em Varginha, foi montada uma operação conjunta entre a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Na manhã de 31 de outubro, os policiais adentraram duas chácaras em que estavam os suspeitos. Conforme a versão oficial da PMMG, na primeira, foram 18 suspeitos mortos; na segunda, outros oito, totalizando 26. A corporação também divulgou que foi recebida com tiros pelos suspeitos.

A ação chegou a ser comemorada pelas autoridades, à época. A porta-voz da PMMG, capitão Layla Brunnela — atualmente major —, disse que aquela era a maior operação referente ao “Novo Cangaço” no país e que “muitos infratores fariam um roubo a banco, naquele dia ou no dia seguinte, e foram surpreendidos pelo serviço de inteligência da PM integrado com a PRF”.

A PRF informou, por meio de nota, que "a quadrilha possuía um verdadeiro arsenal de guerra sendo apreendidos fuzis, metralhadoras ponto 50, explosivos e coletes à prova de balas, além de vários veículos roubados. Foram arrecadados ainda diversos “miguelitos” (objetos perfurantes feitos com pregos retorcidos usados para furar os pneus das viaturas policiais)".

Fonte: O Tempo

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