RELATÓRIO

Mais de 80% das trans e travestis assassinadas em Minas tinham menos de 40 anos

Ao todo, 89 pessoas dessa população foram vítimas de mortes violentas entre 2014 e 2022; 51% dos homicídios ocorreram na Grande BH e no Triângulo

O Tempo/José Vítor Camilo
Publicado em 02/07/2024 às 09:49
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O relatório apresentou dados de 2014 a 2022 acerca da violência contra pessoas trans e travestis em MG (Foto/José Vítor Camilo/O Tempo)

O relatório apresentou dados de 2014 a 2022 acerca da violência contra pessoas trans e travestis em MG (Foto/José Vítor Camilo/O Tempo)

Na última quarta-feira (26 de junho), Gabriella da Silva Borges, uma mulher trans de 50 anos que vivia na Itália e passava férias na capital mineira, foi encontrada morta por asfixia em um apartamento no bairro Santo André, na região Noroeste de Belo Horizonte. Entretanto, por conta da idade, ela faz parte de uma minoria, já que, entre 2014 e 2022, mais de 80% das pessoas trans ou travestis assassinadas em Minas Gerais tinham menos de 40 anos, segundo relatório do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBTQIAPN+ (Nuh), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgado nesta segunda-feira (1º de julho).

O Relatório Violência Contra a População Trans e Travesti em Minas Gerais indica que, no intervalo de 9 anos analisado pelos pesquisadores, 151 pessoas trans ou travestis foram vítimas de homicídio (89) ou tentativa de homicídio (62) no Estado. Deste total, 72 (80,8%) tinham menos de 39 anos e 35 tinham de 18 a 29 anos (39,3%). 

Outro ponto destacado no estudo foi com relação à cor e raça das vítimas, já que 74,6% daquelas que tiveram a cor identificada nos registros policiais eram negras. O ano de 2020 — auge da pandemia de Covid-19 — foi o que mais registrou estes crimes violentos, com 32 registros, enquanto 2018 e 2022 foram os anos com menos casos, com 13 homicídios ou tentativas cada.

O professor Marco Aurélio Máximo Prado, que coordena o Nuh, destaca que o estudo  — que cruzou dados oficiais dos registros policiais com informações de movimentos sociais e notícias na imprensa — consolida a existência de um perfil que há muitos anos era traçado pelos movimentos sociais. "Está consolidado esse perfil: se mata mais pessoas trans negras abaixo dos 30 anos do que qualquer outro grupo social no Brasil. E esse perfil tem uma relação direta com o corpo que está mais disponível à violência institucional e interpessoal, e, também, ao mesmo corpo que transita entre as instituições de assistência e não consegue lugar e acolhimento. Então, se a gente quiser sair dessa situação horrorosa, nosso foco precisa ser as travestis pretas em situação de vulnerabilidade", pondera. 

Pesquisa deve auxiliar políticas públicas

A apresentação do levantamento aconteceu no Salão Vermelho do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), já que o relatório é fruto de uma parceria do Nuh e a Coordenadoria de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação do órgão de Justiça. Durante a apresentação do Relatório, o promotor Allender Barreto Lima destacou a importância dos dados na elaboração de políticas públicas para esta população no Estado. 

"O relatório é público e não pode ficar restrito ao âmbito do Ministério Público e da UFMG, pois ele tem um papel social e institucional muito importante. Ele será fornecido para todas as pessoas e instituições interessadas, e mais do que isso, o relatório servirá como um manancial para dar subsídio para interlocução, para o aprimoramento e para o fomento de políticas públicas de atendimento às pessoas LGBTQIAPN+", conclui Lima. 

Grande BH e Triângulo têm maioria das mortes

O relatório do Nuh trouxe ainda um recorte regional para as mortes violentas de pessoas trans e travestis em Minas. Segundo os dados, a região metropolitana de Belo Horizonte e o Triângulo Mineiro são as "líderes" em mortes desta população, com 51% do total. 

De 2014 a 2022, Belo Horizonte foi a cidade com mais assassinatos, com 20 mortes. Em seguida, aparece Uberlândia e Contagem, com oito registros cada. Confira abaixo o ranking dos municípios com mais homicídios de pessoas trans e travestis em Minas. 

  1. Belo Horizonte - 20
  2. Uberlândia - 8
  3. Contagem - 8
  4. Uberaba - 5
  5. Governador Valadares - 5
  6. Manhuaçu - 3
  7. Frutal - 3
  8. Betim - 3
  9. Ribeirão das Neves - 2
  10. Juiz de Fora - 2

Fonte: O Tempo

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