NEGOCIAÇÃO

Compra da Gol pela Azul preocupa especialistas e consumidores

Publicado em 22/06/2024 às 14:38Atualizado em 22/06/2024 às 14:48
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“Se a companhia dominante em um desses aeroportos enfrentar dificuldades sérias, a população local poderá sofrer grandes transtornos”, destaca Holland, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (Foto/Reprodução)

A iminente fusão entre as companhias aéreas Gol e Azul está gerando preocupações significativas entre especialistas do setor. Caso a negociação seja concluída, muitos aeroportos brasileiros podem ficar sob o domínio de uma única companhia, levantando questões sobre concorrência e possíveis impactos negativos para os consumidores.

Uma das principais preocupações está relacionada à concentração de operações em determinados aeroportos. O professor Márcio Holland, da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, alerta que a fusão poderia resultar em monopólio em aeroportos como Confins (MG), Recife (PE), Galeão (RJ), e até mesmo Uberaba (MG), onde a empresa controlaria a maioria dos voos.

“Se a companhia dominante em um desses aeroportos enfrentar dificuldades sérias, a população local poderá sofrer grandes transtornos”, destaca Holland.

Outro ponto de preocupação é o possível aumento das tarifas aéreas. Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que, em 2023, a Azul teve um valor médio de passagens de R$ 717, enquanto a Gol apresentou um valor médio de R$ 576. Holland ressalta que a Azul pratica tarifas em média 24% mais altas que as da Gol nas rotas onde competem diretamente, o que poderia resultar em aumentos significativos de preços após a fusão.

Além do aumento de preços, espera-se uma redução no número de assentos ofertados, pois a nova empresa poderia ajustar suas operações para evitar sobreposições de voos nos mesmos trechos.

A fusão também pode impactar negativamente os funcionários da Gol. Holland destaca que demissões na Gol poderiam ser uma estratégia para aumentar a eficiência econômica da Azul, sem benefícios diretos para os consumidores.

O setor aéreo brasileiro já enfrentou processos de concentração que afetaram negativamente os consumidores. A aquisição da Webjet pela Gol em 2011 resultou em um aumento de 7,68% a 16,42% no valor das passagens em rotas onde as duas empresas competiam. Além disso, a fusão levou à demissão de 850 funcionários da Webjet e aumentou a concentração do mercado.

Atualmente, a Latam lidera o mercado doméstico com 37,8% da demanda, seguida pela Gol com 33,3% e pela Azul com 28,4%. A fusão entre Gol e Azul concentraria mais de 60% da demanda nacional em uma única empresa, algo inédito nos últimos 20 anos, segundo Holland.

A Azul seria a principal beneficiada pela fusão, o que poderia evitar uma reestruturação ou um pedido de recuperação judicial, como enfrentado recentemente pela Gol e Latam. As ações da Azul, que já foram negociadas a R$ 62,41 em janeiro de 2020, caíram para R$ 8,13 em junho de 2024, refletindo a fragilidade financeira atual da empresa.

A história do setor aéreo no Brasil sempre foi marcada pela predominância de poucas empresas, como Panair, Varig, Cruzeiro, Real Aerovias e Vasp, e mais recentemente, Latam, Gol e Azul. No entanto, a concentração do mercado nas mãos de apenas duas empresas pode trazer desafios significativos, especialmente considerando que a Latam tem suas operações sediadas no Chile.

A decisão final sobre a fusão entre Gol e Azul ainda depende da aprovação dos órgãos reguladores, que devem avaliar os potenciais impactos sobre a concorrência e os consumidores.

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