VIRALIZOU

Como Fernanda Torres e suas personagens se tornaram onipresentes nas redes sociais

Atriz já disso não se incomodar e até celebrou a viralização de cortes e memes de trabalhos seus. Para ela, os memes são uma ‘expressão superior de arte’

O Tempo/Alex Bessas
Publicado em 17/12/2024 às 07:25
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Foto de Fernanda Torres bate recorde de engajamento no perfil do Oscar (Foto/Reprodução Instagram @theacademy)

Foto de Fernanda Torres bate recorde de engajamento no perfil do Oscar (Foto/Reprodução Instagram @theacademy)

Protagonista do longa “Ainda Estou Aqui”, que se tornou um fenômeno de bilheterias no Brasil após bem-sucedida estreia no Festival de Veneza, onde foi aplaudido por dez minutos e premiado na categoria Melhor Roteiro, a atriz Fernanda Torres parece ter, agora, todos os holofotes voltados para si. Pela atuação na trama, dirigida por Walter Salles, ela acumula resenhas elogiosas pela crítica especializada enquanto, nas redes sociais, é elevada à condição de diva.

No caso da artista, porém, o sucesso nas mídias digitais não é propriamente uma novidade, ainda que tenha sido potencializado pelo buzz gerado pela chegada do filme, que tenta vaga entre os indicados ao Oscar, às salas de cinema no Brasil – a pré-lista de indicados sai na manhã desta terça-feira (17). O longa, aliás, vem sendo indicado a premiações internacionais, como o Globo de Ouro, o Critics Choice Awards e o Satellite Awards.

Antes dessa já bem-sucedida produção, em que interpreta Eunice Paiva, mulher do deputado Marcelo Rubens Paiva, cassado, sequestrado e morto pela ditadura militar brasileira, Fernanda já era um fenômeno. Personagens suas, como Vani e Fátima, respectivamente dos humorísticos “Os Normais” e “Tapas & Beijos”, ganharam vida para além de suas tramas de origem, tendo caras, bocas e cenas replicadas nos mais distintos contextos na forma de memes e cortes curtos.

“Elas (essas personagens) conquistaram o público por seu humor e jeito autêntico”, avalia Cecilia Pawlow, mestranda pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e pesquisadora de comunicação. Para ela, Vani e Fátima, embora com suas tantas diferenças, têm em comum um traço de comicidade perante situações do dia a dia. “Esse mesmo princípio se aplica aos memes, que são criados e compartilhados online pelas pessoas para comentar, com humor e ironia, sobre temas diversos, desde acontecimentos cotidianos até política e entretenimento”, indica, ao avaliar as razões por trás da “Fernandatorrização” das redes sociais.

Além de suas personagens, Cecilia acrescenta que a própria Fernanda Torres também se apresenta como uma personalidade vista pela audiência como bem humorada e autêntica. “Ela é carismática, cria uma conexão com o público, que acaba compartilhando trechos brutos ou edições de vídeos com falas dela”, aponta. 

O fenômeno, diga-se, está longe de incomodar a atriz. Recentemente, em entrevistas, ela disse ver os memes como uma “expressão superior de arte”. E, do ponto de vista de quem pesquisa o tema, a análise faz sentido.

“A arte, em essência, é uma forma de expressão cultural e social que reflete valores, emoções e ideias de uma sociedade. Os memes, como linguagem digital contemporânea, desempenham um papel semelhante, sendo criados e compartilhados pelas pessoas, eles traduzem o contexto social e cultural do momento”, pontua, definindo os memes como uma linguagem digital nativa da internet que aparece em formatos variados, principalmente como imagens, vídeos e textos, quase sempre com um tom voltado para o humor e o entretenimento. “Um meme se torna um meme quando é compartilhado, adaptado e muitas vezes copiado ou recriado de maneiras criativas por outros usuários”, assinala.

Presença digital gera conexão com novos públicos

Fernanda Torres acredita que a pulverização, nas redes sociais, de cortes e edições de cenas de suas personagens tem feito que mais pessoas se aproximem dessas histórias. “Os memes me fizeram sobreviver entre as novas gerações, isso eu não tenho dúvida”, comentou a atriz em conversa com a imprensa. Mais uma vez, uma proposição alinhada às análises da pesquisadora Cecilia Pawlow.

“Os artistas podem se beneficiar dessa prática”, avalia, mencionando que, ao criar versões adaptadas de conteúdos originais, os memes, assim como os cortes virais, podem ressignificar obras e torná-las relevantes novamente, gerando um vínculo com as novas gerações. Mas a equação não é tão simples assim e seria enganoso cravar que personagens que fazem sucesso nas redes sociais vão, necessariamente, levar mais pessoas a consumir a produção de origem daquele meme ou corte.

“(Eles) podem funcionar como uma espécie de isca, gerando curiosidade e engajamento acerca do assunto, que vai funcionar como um convite ao compartilhamento e interação com o conteúdo e produção cultural em questão, ou, de fato, ser um caminho para levar o público até a obra em si”, indica Cecilia.

O desafio, diz, está em como esse conteúdo condensado pode impactar o consumo de uma obra de maior duração ou complexidade. “O público da Geração Z, por exemplo, tende a preferir formas de consumo mais rápidas, o que pode dificultar a transição desse interesse passageiro para um envolvimento mais profundo com o conteúdo original”, opina.

Aliás, em um sinal de que o sucesso da atriz vem inspirando plataformas para além das redes sociais, o Canal Brasil levou ao ar uma maratona de produções com participação de Fernanda Torres na última terça-feira, celebrando a indicação do nome da atriz ao Globo de Ouro. A programação incluiu títulos como “Terra estrangeira” (1995) e “O primeiro dia” (1998), ambos de Daniela Thomas e Walter Salles, e “Eu sei que vou te amar” (1986), de Arnaldo Jabor, que rendeu a ela o prêmio de melhor atriz do Festival de Cannes em 1986, compartilhado com Barbara Sukowa, de “Rosa Luxemburgo”.

Uma faca de dois gumes

Se, de um lado, a viralização de conteúdos entusiasma Fernanda Torres, de outro, o mesmo fenômeno já lhe tirou o sono. Literalmente. “Hoje, penso dez vezes antes de dizer uma bobagem, porque aquilo nunca mais vai sair do ar. No dia em que o Selton se despediu das filmagens (de ‘Ainda Estou Aqui’), ele mandou uma maravilhosa: ‘Tchau, gente, e vê se ninguém fala nada de polêmico até a estreia, para não ser cancelado, ok?’”, relatou a atriz em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”. 

Em seguida, ela completa: “No fim do ano passado, dei uma entrevista para o ‘Roda Viva’, que é um perigo, porque são duas horas de entrevista sem filtro e sem corte. Tive uma insônia horrorosa, fiquei repassando o que eu tinha dito e me lembrando da frase do Selton. É um risco de vida dar entrevista atualmente”.

“A internet pode ser impiedosa, e qualquer erro pode ser resgatado e ganhar milhares de visualizações em questão de segundos, impactando profundamente a imagem e a reputação de alguém”, reconhece Cecilia Pawlow, examinando que o fato de serem compartilhados de maneira fragmentada e, por vezes, sem contexto, os cortes podem alterar o significado original de uma fala ou ação, gerando repercussão negativa.

“Existe possibilidade de mal-entendidos, e, em alguns casos, um comentário infeliz ou descontextualizado pode levar a um ‘cancelamento’ antes mesmo que a pessoa tenha oportunidade de esclarecer sua posição”, conclui.

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