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Futebol e crise

A atual crise econômica por que passa o mundo requer novas relações éticas do capital e do trabalho e a conseqüente reavaliação da mais valia.

Gilberto Caixeta
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 13:24
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A atual crise econômica por que passa o mundo requer novas relações éticas do capital e do trabalho e a consequente reavaliação da mais valia. No entanto, a crise, não atinge sobremaneira todos os segmentos produtivos da economia global. Algumas atividades passam ao largo deste processo por terem especificidades próprias, onde a capitalização de recursos se dá na socialização da emoção e da paixão, e onde os lucros se contabilizam privativamente pela razão manipuladora da socialização. O principal setor acumulador de lucros é improdutivo e se chama futebol, uma vez que o futebol profissional dos principais clubes do país e do mundo não pode ser visto unicamente como esporte, mas como uma atividade voltada ao lucro, ao enriquecimento de uma minoria privilegiada, em detrimento ao esporte em geral e às várias modalidades que o compõe: basquete, natação, ginástica, xadrez, pingue-pongue... Essas entre outras não têm as benesses concedidas aos jogadores de futebol e não recebem o mesmo carinho dado pela imprensa ao futebol; aliás, ao futebol masculino. O feminino só recebe essa atenção em época de mundial.

Não há explicação moral – se fosse possível – que justifique os ganhos de um jogador de futebol, não só na sua transferência de um clube para outro. O mesmo pode se dizer com relação a um técnico de futebol. A fábula de dinheiro capitalizado pelos jogadores fere o bom senso e extrapola o razoável. Não há profissão, por mais pró-ativa que seja, que consiga chegar aos pés da remuneração de quem usa os pés ou as mãos durante uma partida de futebol.

Todavia, são os torcedores que bancam essa brincadeira, mas só são beneficiados com o futebol quando há um evento internacional e o país passa a ser a sede mundial desse evento. Aí o país não precisa de jogadores, mas de transporte com qualidade, estrutura hoteleira compatível aos índices internacionais, segurança social excelente, bons estádios, estrutura viária dentro das normas de qualidade. A nação tem que estar pronta para receber os milionários do mundo do futebol. Quando eles se forem, os investimentos irão juntos.

O futebol deixou de ser uma paixão, para ser um vício, onde pessoas se atracam e discutem por causa de seu time favorito. Nos estádios, abarrotados de torcedores, por qualquer motivo relevante ou não, a pancadaria corre solta e, às vezes, vidas são sacrificadas. O torcedor viciado só sabe falar de futebol, só se preocupa com o futebol, só sabe sobre futebol e mais nada. O governo sinalizou com a possibilidade de instituir a carteirinha do torcedor, como norma para quem costuma frequentar os estádios de futebol. Essa é uma medida paliativa para sustar a violência nos campos de futebol e que de nada adiantará. O que é preciso é desmantelar as torcidas organizadas que depõem contra o futebol e parar de endeusar aqueles que têm o dom de jogar.

Futebol bom é pelada de final de semana, com os amigos, ou quando se vai à várzea para assistir ao jogo, onde as pessoas se confraternizam e falam mal do juiz de forma esportiva, sem correr risco de vida.

O futebol profissional tem que passar por novos paradigmas, assim como as relações sociais têm passado.

(*) Professor

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