Não faz tempo, fiz um comentário sobre a “Igreja do Diabo”, uma crônica de Machado de Assis. Falei das portinhas que se abrem às dezenas, como cogumelos
Não faz tempo, fiz um comentário sobre a “Igreja do Diabo”, uma crônica de Machado de Assis. Falei das portinhas que se abrem às dezenas, como cogumelos, para explorar a boa fé do povo simples e ingênuo. É bom deixar bem claro que há igrejas protestantes sérias. São as chamadas “históricas”. Muitas delas são. Não cito nomes por receio de me esquecer de alguma. São pastores sérios, de mentalidade aberta, que conhecem a Bíblia e pregam, com fé, a Palavra de Deus. Tenho livros de teólogos protestantes que são excelentes. Pannemberg, por exemplo, Joachim Jeremias, Dodd, Bultman e muitos outros. Esses “irmãos” nossos não são exploradores do povo. Na Europa, teólogos protestantes e católicos fazem reunião juntos para debater os problemas atuais. Têm espírito aberto. Não temos os mesmos pontos de vista, mas o que importa é que pregam a Palavra e a traduzem em suas vidas. Conhecemos os valores uns dos outros. Apesar de nossas fraquezas, procuramos ser honestos.
O que lamento é a criação de certas igrejinhas, às dezenas, sem base histórica nem teológica. Verdadeiras arapucas que atraem os menos avisados. São “os piratas da fé”. O pior é que nossas leis favorecem a criação dessas igrejas. A Folha de São Paulo brindou-nos com um exemplo. Três jornalistas daquela empresa, propositadamente, fingiram-se de pastores e fundaram uma nova igreja à qual deram o nome de “Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangElio” (sic). Vejam o que fizeram.
1. Pela lei, foram dispensados de pagar impostos de imóveis urbanos (IPTU). 2. Foram dispensados de pagar impostos rurais (ITR). 3. Foram dispensados de pagar impostos de veículos (IPVA) e impostos de serviços (ISS). Mas não foi só isso. O “pastor”, Hélio Schwartsman, com seus dois “bispos” puderam fazer operações financeiras isentos de IR e IOP.
Agora a gente entende melhor o interesse em abrir igrejas em cada esquina. Acumulam grandes riquezas, criam poderosas empresas e se tornam os “milionários da fé”. São pastores empresários, sem falar nos pastores-políticos que pululam nas Assembleias.
Ia me esquecendo, há o dízimo (que não é tributado) doado na promessa de “quem mais dá, mais recebe”.
Descobriram o método rápido para enriquecer: usar a Bíblia para ludibriar a Constituição. São os “piratas do Senhor”. Penso o que devem sofrer os verdadeiros pastores daquelas igrejas que merecem nosso respeito. Jesus falava nos lobos vestidos de ovelhas. Ele deve ter pensado também nos lobos vestidos de pastores.