Olho à minha volta. Encanta-me, ao mesmo tempo me assusta, a diversidade do universo. É riqueza demais para encantar os olhos humanos. É beleza tanta que não temos
Olho à minha volta. Encanta-me, ao mesmo tempo me assusta, a diversidade do universo. É riqueza demais para encantar os olhos humanos. É beleza tanta que não temos como duvidar do espírito Criador de todas as coisas.
Olho para dentro de mim. Tantos matizes, ora adornando minha alma, em outros momentos tornando-a cinzenta e triste.
Como entender a trajetória humana? Como compreender o turbilhão de acontecimentos, muitas vezes provocados por nós, outras vezes alheios à nossa vontade!
Há momentos em que a vida se assemelha a um desfile carnavalesc há palhaços que riem da própria desgraça; há pierrôs que continuam buscando suas colombinas, sumidas no mundão de meu Deus; e tantos mascarados, tentando esconder, talvez para si mesmos, as tristezas, mágoas e decepções acumuladas ao longo do ano.
Dói pensar na fragilidade de cada um de nós. Quebradiços. Medrosos sobre o próprio caminho, duvidando – quantas vezes! – de nossa capacidade de remover os obstáculos, ou de alçar voo em direção a uma estrela.
Observo aquele executivo, engravatado e distante de seus subordinados. Parece sempre seguro de si, como se uma grossa casca de insensibilidade o protegesse sempre. Interiormente talvez carregue o peso maior da insegurança que precisa ser mascarada para continuar seu trajeto de empresário distante, que inspire medo em todos que o cercam.
Atento para aquele pai que sente necessidade de sempre dizer não ao filho, mesmo que, no coração, queira enlaçá-lo em afeto profund mas é preciso infundir respeito amedrontador, no julgamento da necessidade de uma educação rígida e ultrapassada.
Rememoro o tempo que se foi, no ano que acabou. Olho à minha frente mais um ano que chega. E fica-me a triste constataçã apesar do brilho dos fogos, apesar do tilintar das taças, apesar do canto que se despede do ano findo, saudando o que começa, em meio ao esquecimento do motivo maior do Natal já ido – o Menino-Deus –, apesar das promessas de vida nova e de novos planos, o ser humano não consegue despir-se de sua carcaça de fragilidade. Fragilidade diante da natureza, que ele mesmo destrói e que, impiedosa, se volta contra ele; fragilidade em face do semelhante com quem nem sempre consegue dialogar; fragilidade pela ausência da solidariedade diante dos irmãos mais necessitados; fragilidade diante de si mesmo, talvez ainda um desconhecido para si próprio.
E em meio a esse emaranhado de situações e pensamentos conflitantes, ah! meu amor, saudade imensa de repousar a cabeça em seu ombro querido, no abraço que, mesmo por segundos, aliviasse o peso de minha fragilidade em face de mim mesma.
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro