Todos sabem dos problemas que a Igreja Católica tem enfrentado nos últimos tempos. Há um erro muito comum de raciocinar no particular
Todos sabem dos problemas que a Igreja Católica tem enfrentado nos últimos tempos. Há um erro muito comum de raciocinar no particular e tirar conclusão no geral. Assim é que os erros de alguns papas, bispos e padres são generalizados e respingam em toda a Igreja. Alguns cometem erros imperdoáveis, logo todos os outros não prestam. É um erro ilógico e infantil. Por isso, todo o Povo de Deus, clérigos e leigos, sofrem com o comportamento imoral de alguns. Quando abrimos as revistas ou vemos as reportagens na televisão, enchemo-nos de vergonha com o que lemos e vemos. Quase todos os dias fazem referências a comportamentos negativos de padres. Alegram-se com a miséria alheia.
Vou escrever sobre um assunto desagradável. Que me perdoem se escrevo com a alma e com o coração doendo. Vamos por partes.
1 – Quando uso o termo “Povo de Deus” estou fazendo referência não apenas aos leigos, mas a toda a Igreja e aqui, no caso, à Igreja Católica, aos leigos e aos clérigos, aos dirigentes e aos dirigidos. Aos que tem o poder de mandar e aos que têm o dever de obedecer. Os leigos formam 99,7% da Igreja. A Hierarquia apenas 0,3%. Os leigos são a maioria absoluta, mas não têm nenhuma voz ativa. As decisões disciplinares e dogmáticas estão nas mãos da Hierarquia (Papa e Bispos) que decidem tudo sem a participação dos leigos. Às vezes é-lhes concedida uma certa participação consultiva, mas não de decisão. Por exemplo, 95% ou mais dos leigos são contra a disciplina do celibato. Mas, o que pensam os leigos não tem nenhum valor.
2 – A Hierarquia (Papa, Bispos e Padres) é constituída, como todos os homens, de seres frágeis. Não são anjos nem santos. Por isso, são sujeitos a erros, a desvios de conduta. Se os “padres” não pecassem seria um milagre. Agora, seus erros têm gravidade maior, porque são eles os guias da comunidade, são eles que ensinam o caminho, são eles os exemplos de conduta cristã. O comportamento de um padre exige muito mais do que o de um médico, engenheiro ou seja quem for. O estrago que ele provoca é muito maior. A ferida é muito mais profunda. Os sacerdotes são escolhidos para ensinar e viver as exigências do Reino de Deus, do Caminho. Amor, perdão, serviço desinteressado, justiça, tolerância, compreensão, compaixão, ajuda.
3 – Os atuais erros que nos humilham e envergonham não são os únicos na História da Igreja. Dizia João XXIII que “a Igreja é santa e pecadora”. Há na História comportamentos iníquos de papas que nem mereciam o nome de cristãos. Mas, nem por isso a Igreja deixou de transmitir a Mensagem de Jesus. A superfície pode estar podre, mas o “underground” (interior) continua produzindo santos e homens totalmente entregues ao amor, ao serviço aos outros. Ao lado de 5 padres indignos, há 50 que cumprem seu dever. Por que não olhar a carne boa e ficar insistindo na carniça?
4 – Nos últimos tempos aconteceram fatos de natureza criminosa que nos envergonharam e dilaceraram a face da Igreja. Morremos de vergonha diante das monstruosidades que pipocaram por toda a parte. Não vou discutir as atitudes do Papa e dos Bispos. Não compete a mim traçar regras de conduta punitiva aos meus superiores. Quero apenas citar o que o Papa Bento XVI deixou por escrito na carta aos bispos da Irlanda e, de raspão, aos bispos do mundo inteiro. Ele aponta as causas do desatino anormal de alguns padres em matéria de sexo.Eis o texto (os grifos são meus): “Se examinarmos com atenção os numerosos elementos que deram origem à crise atual é preciso empreender uma diagnose clara das suas causas e encontrar remédios eficazes. Certamente, entre os fatores que para elas contribuíram podemos enumerar: procedimentos inadequados para determinar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa; insuficiente formação humana, moral, intelectual e espiritual nos seminários e nos noviciados”. (Nota dez para o Papa). Em seguida o Papa fala que é preciso agir com urgência, enfrentar os fatores enunciados. Fiquemos por aqui aguardando o que vai ser feito.