É própria do ser humano a instabilidade emocional
É própria do ser humano a instabilidade emocional.
Há dias em que amanhecemos animados, dispostos a tudo enfrentar, com entusiasmo e alegria.
Quando isso acontece, parece ficar mais leve o fardo dos compromissos: os passos se tornam mais ágeis, as mãos mais atentas, o raciocínio mais lúcido. É momento em que os pássaros parecem mais saltitantes, os gorjeios mais lépidos, as flores mais visíveis, nosso olhar mais aberto para as belezas da vida.
Assim, a solução para os problemas parece agilizar-se, provocando bem-estar e sensação do dever cumprido com satisfação. Ao nosso redor, tudo contribui para nossa capacidade de enfrentar a vida.
Não resolve, a nenhum de nós, esconder os problemas nos escaninhos da alma, ou desprezá-los - considerando-os insolúveis - desanimados e tristes, como se o mundo estivesse sobre nossos ombros: “os ombros suportam o mundo”, segundo Drummond.
Humanamente falando, não temos capacidade para suportar o mundo. Há pessoas de nosso conhecimento que buscam resolver tudo ao seu redor: da família, dos amigos, até de quem esteja mais afastado, sentindo-se, mesmo assim, responsável por solução de tudo que acontece.
O pior é que, quando surge a frustração pela incapacidade de solução de tantos problemas que aparecem, surge, com a frustração, o sentimento de culpa: culpa pelo fracasso do outro, culpa pela tristeza do outro, culpa pelo desânimo do outro, enfim culpa em relação a tudo e a todos. Aí, sim, os ombros parecem suportar o mundo. E quantas vezes não é o próprio universo – este momentaneamente esquecido para arcar com o peso dos outros.
É complicado o pensamento humano. Não o fosse, e a vida se tornaria mais simples, com cada pessoa, talvez na ordem disciplinar do cosmo, resolvendo uma questão de cada vez, sem atropelamento interior de tantas vertentes que se entrecruzam e, nesse entrecruzar-se, congestionando as linhas do pensamento.
Da mesma forma que as catástrofes no mundo – tsunamis, ciclones, tufões, maremotos e terremotos – obstruem a harmonia do universo, quando colocamos em nossos ombros a culpa por todos os acontecimentos que nos cercam, o desequilíbrio interior congestiona os canais de nossa serenidade.
Por tudo isso é necessário que nossas vidas – a despeito das dificuldades em fazê-lo – se torne um fardo mais leve. Que nossas vidas não tenham que suportar o mundo, mas aliadas a ele, possam contribuir, não para carregá-lo num esforço hercúleo, mas para, ao lado dos irmãos, caminhar de mãos dadas, ajudando e sendo ajudadas.
Lá de cima, com certeza, Deus abençoará cada uma de suas criaturas que procuram harmonizar-se interiormente, harmonizando, assim, o ambiente que as cerca, com serenidade e espírito solidário.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro