A Academia de Letras do Triângulo Mineiro perde mais um de seus membros: Prof. Erwin Pühler, dois anos após a perda de sua amada, D. Eunice. Tal perda não se restringe à Academia
A Academia de Letras do Triângulo Mineiro perde mais um de seus membros: Prof. Erwin Puhler, dois anos após a perda de sua amada, D. Eunice. Tal perda não se restringe à Academia, mas estende-se a Uberaba e, mais proximamente, aos seus familiares e seus amigos.
Conheci-os ainda bem jovens, eu mal saída da adolescência, concluindo o Curso Normal: ele, meu competente professor de Filosofia. Eu já era, à época, namorada do Murilo, o que nos aproximou ainda mais do culto casal, em elos de amizade tão estreita, ao ponto de convidá-los para padrinhos de nosso casamento.
Murilo e eu tínhamos tudo a ver com Eunice e Erwin: todos nós voltados à Educação, todos nós preocupados com a cultura local, todos nós envolvidos com a escrita, cada qual com seu estilo e pendor. Outro traço comum: abraçávamos a mesma crença religiosa, o casal sempre ligado à Igreja da Adoração Perpétua, Murilo e eu, inicialmente ligados à Catedral, posterior e definitivamente à Igreja São Benedito.
Não há como pensar em Erwin sem pensar em Eunice e vice-versa. O casal sempre unido, bebendo das mesmas fontes do saber, apesar da divergência de temperamentos, ela sempre muito discreta, ele mais explosivo em suas colocações, talvez por isso mesmo se complementando, como se formassem uma unidade de vida e pensamento.
Nas reuniões da Academia, quase sempre D. Eunice e eu, sentadas uma ao lado da outra, aproveitávamos o momento para colocar em dia nossos acontecimentos, naquela clara demonstração da alegria do reencontro.
É notório o valor de ambos em nossa Literatura: ele, cujo idealismo o levou a criar a Revista Cosmovisão; ela, alma de criança, pendendo para a literatura infanto-juvenil, com vários livros publicados e adotados nas escolas de Uberaba e do país.
Os filhos do casal aqui ficam, seguindo a trajetória dos pais: minha ligação mais estreita com a filha Brunhild faz-me perceber nela, não apenas os traços físicos dos pais, mas a profunda ligação familiar que sempre os uniu e o mesmo amor à cultura.
O tempo passa, a vida passa, todos nós passamos...
Lá na Praça Dom Eduardo, plantada no jardim que sempre acolheu nosso casal amigo, a estátua de D. Eunice, terço à mão, até agora sozinha, aguarda a chegada do companheiro de caminhada.
No céu, com certeza, eles já estão juntos, na presença de Deus, que sempre foi presença em suas vidas.
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro