Brasileiros, que fazem um “esforço concentrado” para avaliar a conduta de muitos dos nossos políticos, certamente não rejeitam a consideração geral da situação concreta em que aqueles se acham. E a consciência política popular não aceita os privilégios de que gozam os nossos parlamentares no que tange aos seus generosos benefícios – alguns religiosa e mensalmente creditados em suas contas bancárias e outros gozados na forma de carros, funcionários, passagens de avião, aluguel de escritórios, plano de saúde integral (extensivo aos familiares), refeições, combustível e fretamento de carros. Benefícios esses que a grande e esmagadora maioria dos brasileiros nunca terá em toda a sua vida e mesmo que trabalhasse vinte horas ao dia, sete dias por semana, durante doze meses e sem direito a férias e feriados.
Para nós, o legislador é uma criatura tão comum quanto qualquer outro ser humano, daí eu não entender o porquê das suas pretensas soberania e soberba sobre os demais brasileiros. Em consequência, claro, não se pode necessariamente impor normas de comportamento diferentes que o bom senso não tolere, afinal, são seres absolutos! Muitos deles exigem, pelas leis que aprovam em causa própria, comportamentos exclusivos a eles mesmos e que contrariam o bom senso e o comum procedimento de outros duzentos e vinte milhões de tupiniquins; donde se conclui que a confiança e o respeito que exigem de nós em relação a eles não podem ser sustentados por algum sentimento racional. Não são algum deus e embora não poucos deles tenham a aparência, gestos, modos e comportamentos semelhantes a alguma divindade.
Ao avaliar a conduta de alguns poderosos e intocáveis políticos, felizmente uma grande parte dos eleitores já não rejeita a consideração de situações concretas e negativas em que aqueles se encontram; ufa! Todos os políticos trazem virtudes que eles deveriam auscultar a fim de fomentá-las e assim atingirem um grau ao menos razoável em termos de aceitação popular, ao ponto de serem eles mesmos o sujeito do famoso adágio greg torna-te aquilo que és! Não é o agir do político que cria a definição sobre a sua pessoa, mas, ao contrário, é esta que suscita e norteia o agir de um político; esse não deve ser senão o vir-a-ser-político-em-plenitude; o tornar-se um digno homem público.
O político não chega à plenitude do seu mandato seguindo caminhos arbitrários e improvisados. Ele se descobre e desenvolve-se mediante a ausculta de valores que devem ser naturais a ele e que não pode ignorar ou malbaratar sem desfigurá-los. Em outros termos: é necessário que cada um deles procure aplicar sempre os princípios perenes da ética às suas funções e mesmo que isso custe muitíssimo a alguns deles. E a virtude do cargo que exercem deve realizar essa tarefa, confrontando as normas gerais da moral e a situação do sujeito enquanto político de carteirinha. E enquanto pudermos continuar sonhando livremente e sem pagar impostos por isso, ao menos assim conseguiremos viver iludidos, mas... felizes.
Gustavo Hoffay
Agente social