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Estrela na testa

Havia algum tempo que um sujeito vinha furtando gado no município de Uberaba

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 11/07/2015 às 19:58Atualizado em 16/12/2022 às 03:24
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Havia algum tempo que um sujeito vinha furtando gado no município de Uberaba. E pelo que vinha sendo apurado, tinha uma habilidade extraordinária em desossar uma rês bovina. E ele o fazia em pouco tempo, o que lhe permitia uma fuga eficaz antes que se desse por falta da rês.

Pois eh! Certo dia, enfim, foi preso. Durante a audiência de instrução, foram ouvidas testemunhas que deram conta da habilidade do gatuno.

Ouvido, confessou, com certa indiferença, e até com certa naturalidade, a prática do delito. Pelo modo da confissão, poderia ser um escárnio com a Justiça, com o sistema, ou poderia ser também uma informação da condição de alheio ao regular.

Acontece que a rês que o sujeito havia abatido dessa vez não era uma rês comum. Segundo demonstrado nos autos, era nada mais, nada menos, que a vaca campeã nacional na Exposição de nelore de Uberaba, naquele ano.

A vaca era de renomado criador de marca nacionalmente reconhecida e valorizada. O preço em dólares, estimavam, passava dos cem mil, àquele tempo.

Diante daquela situação inusitada, o Juiz dirigiu-se ao agente, o réu, e fez um questionamento.

– Por acaso o senhor sabia que matou uma vaca campeã nacional, cujo valor estimado é em torno de cem mil dólares!!! E dela fez apenas uma vaca de corte?

Levantou o réu a cabeça e, até mostrando certa perplexidade, respondeu:

– Foi mesmo, autoridade? Não acredito. Não é possível que fiz isso.

Quando lhe respondeu o Juiz, com a fisionomia fechada:

– Pois fez.

Então, replicou o réu:

– Desculpe-me, autoridade. Eu não sabia. Ela não tinha estrela na testa. Caso soubesse, mataria outra que estava ao seu lado. Mas sem carne não como não!

Resultado. O Juiz suspeitou da integridade mental do sujeito pelo modo surreal da resposta. Determinou que fosse submetido a exame de sanidade mental. Não deu outra. Meio doido. Pagou sua pena e sumiu. Mas a lição ficou. Na vida seguimos nós, diante de todo risco, sem estrela na testa, como asseverou na sua astúcia o sujeito. Afinal, reconhecer loucura não atesta ignorância. E seguimos com riscos de toda ordem.

É bom sempre ficarmos atentos. O infortúnio não chega somente para o vizinho. “Na vaca ao lado”. É prudente estarmos preparados, pelo menos na medida do possível.         

(*) Juiz de Direito 

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