Estamos sempre correndo, para onde
Há poucos dias, passava pela Rua Santo Antônio, quando surgiu o inesperado problema: “Estou indo para onde?”
Há poucos dias, passava pela Rua Santo Antônio, quando surgiu o inesperado problema: “Estou indo para onde?” Não sabia. Assustado, parei o carro na primeira vaga. Foi então que, mais uma vez, me veio a mais desagradável de todas as interrogações: “Será que estou entrando na fase senil do esquecimento? Será que estou pagando tributo aos oitenta e nove anos?” Contando o fato a um amigo 20 anos mais jovem, ele me acalmou: “Isso me acontece muito, padre, não preocupa não. Isso é fruto da agitação da vida moderna. Da correria. Prata não morre, seca”.
Não gosto de pensar no fim, mas o certo é que as coisas estão correndo cada vez mais depressa. Estamos sempre correndo atrás de alguma coisa. Às vezes, paro um instante e fico observando os passantes. Todos com pressa. Mal se cumprimentam. Consciente ou inconscientemente, corremos atrás de alguma coisa. Acontece que, atrás desse “ponto” tão procurado, há algo bem mais importante do que imaginamos. Pensando bem, em quase tudo o que faço estou procurando um tipo qualquer de felicidade. Fico feliz quando resolvo um problema ou realizo um projeto qualquer. Ninguém corre atrás do sofrimento. Nem da dor. Nem da contrariedade ou de outro mal-estar. Procuro aquilo que me traz prazer, a alegria da solução de um problema qualquer. Ninguém corre à-toa. Corremos por um emprego, por um médico, por uma diversão, por um remédio, para um encontro. Mesmo aquele que está parado está procurando encher o tempo. Lá no calçadão há um monte deles.
Mais uma vez, corremos atrás daquilo que nos faz felizes. Agora, a mais preocupante de todas as interrogações: Nós somos felizes? Não, não somos. Na vida de todos nós há momentos felizes, alegres, bons. Mas são apenas momentos. Estado permanente de felicidade é utopia. Para aqueles que creem, o que é um dom gratuito de Deus, sabemos que nossa vida não passa de uma passagem. O que nos espera, numa dimensão futura, vai fazer-nos felizes, a não ser que você creia que a nossa vida termina num cadáver. Neste caso, você é mesmo um infeliz. Vai partir para o não-nada. Do nada para o nada. Se fosse assim, essa nossa vida seria uma piada. Nosso trabalho, nossa dor, nossa luta, seria tudo uma promessa vã de um Deus que nos enganou. Ou você não acredita em Deus? Nesse caso, meu queridíssimo leitor, não posso nem desejar-lhe boa viagem.
Padre Prata
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
E-mail: [email protected]
