O sol do final de inverno espalha seus raios por sobre a terra empoeirada
O sol do final de inverno espalha seus raios por sobre a terra empoeirada. Brilha, como se ignorasse o tempo de sequidã as folhas exaurindo cansaço, as flores teimando em não se abrir.
É inverno, e a natureza nos ensina uma lição. No desenrolar de nossas existências, vemos as estações ora se sucedendo, ora se repetindo.
Na vida, nem sempre a primavera vem após o inverno, nem o verão após a primavera. Muitas vezes, há sucessões de primaveras, com cantos de pássaros alegrando as manhãs, com explosão de flores multicoloridas enfeitando caminhos, com o orvalho das madrugadas beijando as pétalas recém-abertas daquela rosa vermelha. E nas primaveras que se repetem, o coração humano desabrocha feliz para a vida, como se o cantar do sabiá tentasse acordar os mais felizes sentimentos de se saber no mundo, como que a irradiar esperança. As folhas, parecendo mais verdes, cantam, embalando a natureza e seu redor.
Mas é inverno, e a natureza nos ensina uma lição. Se a alma padece na solidão de terras áridas, se o coração teima em se sentir vazio, apenas preenchido pela saudade, se a chuva benfazeja se esconde por detrás das nuvens, recusando-se a abençoar a paisagem com seu frescor, ainda assim, há raios de sol que teimam em alertar o ser humano de que ele está vivo, de que é capaz de iluminar, mesmo na solidão da saudade.
Lembro, ainda, os versos de Vladmir Maiakovski: Ainda que seja noite /o sol existe / por cima de paus e pedras / nuvens e tempestades / cobras e lagartos / o sol existe.
Ainda que o inverno nos congele a existência, não podemos jamais esquecer que um tênue raio de sol, irradiado de nosso interior, porque jorrado de Deus, poderá, mesmo que fragilmente, aquecer os corações dos que nos cercam, alimentando, assim, o embrião da esperança. Escorado na fé, o verde mostra a cada um de nós que existem caminhos, que se forjam saídas, aqui ou em qualquer outra paragem.
E em nossas almas, a tessitura dos sonhos nos permitirá pervagar por lugares ansiados, no encontro com o amor que se foi, mas que sempre permanecerá na nitidez presencial de nossas vidas.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro