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Espera/Esperança

Leio em Cassiano Ricardo: a esfera

Terezinha Hueb de Menezes
thuebmenezes@hotmail.com
Publicado em 21/04/2013 às 14:20Atualizado em 19/12/2022 às 13:29
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Leio em Cassiano Ricard a esfera / em torno de si mesma / me ensina a espera / a espera me ensina / a esperança / a esperança me ensina / uma nova espera a nova / espera me ensina / de novo a esperança / na esfera.

A vida é cíclica. É circular. Saímos sempre de um ponto e, quando menos esperamos, a ele voltamos. Por isso a conhecida expressão “roda viva”.

E o que nos move sempre é a esperança. Esperança de que o dia de amanhã seja melhor que o de hoje. Esperança de que os descaminhos se tornem novamente caminhos. Esperança de que as lágrimas que toldam o olhar possam descer até os lábios e abri-los em sorriso. Esperança de que a sombra do desemprego seja ofuscada pela luz de nova oportunidade de trabalho. Esperança de que a saudade doída se transforme em lembranças amorosas que aqueçam o coração. Esperança de que o ainda menino se transforme no profissional repleto de idealismo. Esperança de que a semente da fraternidade faça brotar árvore frondosa, a acolher os mais necessitados, os mais carentes pelos bens negados. Esperança de o enrijecimento de corações, pelos desencantos da vida, seja aquecido, e amolecido pela chegada de novos sonhos. Esperança de que a neve que petrifica almas se derreta em preces alentadoras. Esperança de que a frieza e a sequidão do outono consigam saltar o inverno e trazer, célere, a primavera perfumada e florida. Esperança de que o rosto refletido no espelho, com sulcos e cicatrizes pelos desvãos da existência, em passe de mágica, consiga transformar a expressão, como se a vida iniciasse a florescer naquele momento. Esperança de que o frio da descrença no ser humano se transmude em certezas de que é possível o encontro de irmãos, de que é factível o entrelaçamento de mãos amigas, de que é possível que olhares mirem a mesma direção, na confiança de que amizades verdadeiras ainda existem. Esperança de que o peso da velhice, já no desencanto com tudo e com todos, se renove na lembrança luminosa da infância e de uma vida que frutificou em dons de novas vidas, que se frutificarão em novos dons e novas vidas. Esperança de que a transitoriedade da existência nada mais seja que a transitoriedade da matéria, e que a eternidade que avulta na luminosidade próxima ou ainda distante traga a certeza do reencontro do amor vivido e vivificante e do fim de todas as mazelas que atormentam os corações humanos. Esperança de que o sopro divino, em bafejos do Bem supremo, faça infundir no pensamento dos homens a necessidade de que o mal seja eliminado da face da terra; o respeito pelas diferenças se implante em todos os lugares; o espírito fraterno se entranhe nas condutas humanas; as mãos se unam pelos elos do amor.

a esfera / em torno de si mesma / me ensina a espera / a espera me ensina / a esperança / a esperança me ensina / uma nova espera a nova /  espera me ensina / de novo a esperança / na esfera.

E vamos caminhand a espera nos ensinando a esperança, a esperança, por vezes transformada em desesperança, abrindo-se para nova espera que gere nova esperança: é a lição maior da esfera.

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro thuebmenezes@hotmail.com

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