ARTICULISTAS

Enquanto houver sol

Ninguém passa incólume pela vida. Lembram-se os leitores daqueles versos tão antigos do Francisco Otaviano? “Quem passou pela vida em branca nuvem/ Quem em plácido repouso

Terezinha Hueb de Menezes
thuebmenezes@hotmail.com
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 12:26
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Ninguém passa incólume pela vida. Lembram-se os leitores daqueles versos tão antigos do Francisco Otaviano? “Quem passou pela vida em branca nuvem/ Quem em plácido repouso adormeceu/ Quem não sentiu o frio da desgraça/ Quem passou pela vida e não sofreu/ Foi espectro de homem, não foi homem/ Só passou pela vida, não viveu.” Não existe ninguém que não tenha passado seus tropeços, suas dificuldades, suas tristezas. A não ser que seja alienado ou que possua problemas que o isolem da realidade. Pois a realidade mostra-se quase sempre fria, indiferente aos sentimentos dos que dela fazem parte.

A competitividade espalha-se para todos os setores. É preciso vencer, a qualquer cust nas empresas, na política, no esporte, nas comunidades. É preciso mostrar-se superior ao adversário. Só que, nem sempre, tal intento se apresenta  sob os parâmetros da ética, do respeito ao outro. E isso corrompe, degrada. E, de certa forma, em algum momento, faz sofrer.

Intrinsecamente, os problemas são os mesmos. A própria condição dos seres humanos faz com que apresentem denominadores comuns em relação à existência.

Há uma lenda, segundo a qual um monarca, percebendo que ia morrer, chamou seus assessores e lhes pediu que lhe escrevessem a história da humanidade: ele não queria morrer sem conhecê-la. Após algum tempo, cumprida a tarefa, vieram com vários livros escritos. O rei pediu-lhes que resumissem a história: não haveria tempo para leitura tão ampla. E assim foi feito, ficando tudo reduzido a um volume. O monarca novamente, sentindo-se incapacitado para a leitura, pediu que houvesse novo resumo. E assim sucessivamente, até que se chegou ao resumo dos resumos, contando a história da humanidade, ouvida pelo rei, já sem condição nem de ler: “O homem nasceu, viveu, sofreu e morreu.”

Muitas vezes, neste mar conturbado da existência, o homem se sente sem saída, como dizem os Titãs: “Quando não houver saída/ Quando não houver mais solução/ Ainda há de haver saída/ Nenhuma ideia vale uma vida/ Quando não houver esperança/ Quando não restar nem ilusão/ Ainda há de haver esperança/ Em cada um de nós, algo de uma criança.// Enquanto houver sol, enquanto houver sol/ Ainda haverá...”

Há um poema de Vladimir Maiakovski que utiliza a metáfora sol ligado a esperança: “Ainda que seja noite/ o sol existe/ por cima de pau e pedra/ nuvens e tempestades/ cobras e lagartos/ o sol existe.// Ainda que tranquem o nosso quarto/ e apaguem a luz/ o sol existe.”

Existem problemas, existem sofrimentos, externos ou internos. Há momentos em que tudo parece estar perdido, fechado num labirinto que roda e roda sem sair do lugar: parece não haver saída. Mas lá fora, o sol continua a brilhar – “enquanto houver sol, ainda haverá...” , tentando atenuar as aflições, tentando,  iluminar os labirintos da alma em conflito, tentando mostrar que talvez Deus esteja reservando o alento de que carecemos – aqui ou em outras paragens -, a saída para o que aflige a alma de cada um de nós. Assim seja!

(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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