Ele tem foco!
De um pacato cidadão autodidata na convivência com a leitura ouvi esta: “Se você quer saber se alguém foi alfabetizado devidamente, dê a esse alguém um livro de presente”. Coloquei aspas na frase e, antes de presentear alguém com um livro, procuro usar a sutileza e fazer uma sondagem para saber qual será o destino que o presente terá. Se o livro aterrissar logo ali, com certeza não o darei. “O bem não deve morrer naquele que o recebe”, frase da Logosofia.
Relatou-me um amigo escritor que só presenteia com seus livros aquele que os pede. Do contrário, a livraria está lá para vender suas obras. Parece forte o posicionamento do ilustre catedrático das letras, mas não é. No fundo, o meu amigo expressa uma verdade que muitos gostariam de dizer, mas evitam polêmicas.
Há mais de dez anos, ao saber que o Google tem resposta para quase tudo, perguntei-lhe onde estaria disponível o nosso livr “Quesitos Nas Ações Possessórias...”, de 1987, destinado ao mundo jurídico. Qual não foi a minha surpresa quando descobri que alguns Sebos tinham o livro. Não vacilei e adquiri os oitos encontrados, de Manaus a Porto Alegre. Fiquei feliz? Ao contrário, bateu-me certa tristeza quando li as dedicatórias feitas a pessoas das quais eu nunca esperei um descaso tão grande. Ainda bem que o universo não dorme e, lado outro, o amigo e magistrado Dr. Santo Aparecido Gutier me injetou estímulos e o livro está na editora para ser relançado.
Consegui extirpar de mim o preconceito de que os jovens só querem saber do computador, celular e outros recursos da tecnologia da informação. Esse equívoco tem resposta diante da vasta gama de jovens com quem tenho mantido contatos. Tanto leem quanto escrevem. Recente prova tive quando fiquei conhecendo o adolescente Gildeon Parreira Borges, 16 anos, 3ª série do Ensino Médio, aluno do Colégio N. S. das Graças, que já leu quase cem livros e, na minha modesta ótica, será um grande valor literário. Ele tem foco!
Gildeon ama os livros, tem extensa biblioteca física e virtual. E, ao que deixa transparecer, merece todos os livros, venham de onde vierem.
João Eurípedes Sabino
