É tempo de Natal e de ano-novo
É tempo de Natal e de ano-novo. Os céus anunciam a chegada de uma nova proposta para os seres humanos. Proposta centrada no amor, na fraternidade, no espírito de união e paz. Tantos anseiam pela paz, que parece distante e inatingível. Paz que brote do interior do homem e se ramifique em raízes que criem novas raízes em novos corações, criando o circuito da serenidade e da compreensão.
Mas muitos, julgando-se eternos, caminham em direção oposta àquela que os conduza à esfera de respeito em relação ao outro.
Por isso existem os explorados sociais, porque os exploradores não os deixam crescer, enquanto lhes devoram, avidamente, a vitalidade, a saúde, o ânimo de viver.
Por isso existem os esfomeados, não apenas de pão, mas de dignidade. A vida parece ter-lhes virado as costas e, mesmo assim, eles se arrastam na peleja constante, em busca de concretizações que lhes demonstrem, ainda que fragilmente, a possibilidade de uma existência que, em vez de degradar, promova.
Por isso existem os esfarrapados no corpo e na alma. Os mesmos trapos que lhes desvestem o corpo, cobrem-lhes a alma de vergonha, pela nudez de esperança, de conforto, de crença numa vida melhor.
Por isso existem os escorraçados sociais: a terra parece faltar-lhes nos pés, sentem-se excluídos na presença de outros que os ignoram, são marginalizados, quase invisíveis: o desprezo é a marca que os entristece e cada vez mais os afastam do convívio com a comunidade.
Por isso existem aqueles que, à maneira de bichos, escondem-se em grotas, em tubulações, em marquises ou até mesmo não se escondem: o tempo aberto os acolhe sob o sol, a chuva ou o frio.
Por isso existe toda sorte de sofredores sociais, apesar da tão propalada Declaração Universal de Direitos Humanos: o homem continua sendo degradado, excluído, muitos deles olvidados até naqueles direitos essenciais à vida.
Talvez o sofrimento de Cristo – agora recém-nascido, depois morto na Cruz – tenha que acontecer novamente: parece que os seres humanos não conseguiram, inteiramente, compreender a mensagem que Ele nos deixou, com o Corpo e o Sangue, a todo momento, tentando alimentar as almas, mostrando que a verdadeira aliança com o Criador se faz através da paz, oriunda da fraternidade despojada.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro