Um de nossos piores defeitos é viver reclamando. Reclamamos de tudo
Um de nossos piores defeitos é viver reclamando. Reclamamos de tudo. Do preço dos alimentos. Dos salários. Da corrupção dos políticos. Dos remédios. Dos médicos. Do prefeito. Do padre. Do bispo. Dos motoqueiros. Do trânsito. Da música (?) dos jovens. De sua falta de educação. Se a gente não reclamar a vida fica sem graça. Reclamar faz parte integrante de nosso cotidiano. Sempre foi assim. Bérgson dizia que a História se repete. Em planos diferentes, mas sempre se repete. É inacreditável quando a gente pensa que o poeta Hesíodo, há mais de dois mil anos de nossa época, tenha escrito o seguinte: “Não vejo esperança para o futuro de nosso povo se ele depender da frívola mocidade de hoje, pois todos os jovens são levianos e rebeldes. Quando eu era menino, ensinavam-nos a ser discretos, a respeitar os mais velhos, a obedecer aos pais e mestres. Os moços de hoje, porém, julgam-se excessivamente sabidos e não toleram restrições.” O que me espanta é que, hoje, quase três mil anos depois, muita gente esteja pensando a mesma coisa da juventude. Nós, os antigos, gostamos de repetir que “nos meus tempos não era assim”. É uma maneira muito sutil de esconder nossos erros. Aristóteles, um dos maiores filósofos de todos os tempos, escreveu (antes de Cristo) essa pérola: “Os jovens não suportam as críticas nem a correção. Preferem o belo ao útil. Sempre agem com exagero e violência. Acham que sabem tudo e que não precisam dos conselhos de ninguém.”
Como se vê, sempre houve o conflito de gerações. Pais e filhos, mestres e alunos, idosos e jovens, nunca se entenderam muito bem, respeitando as exceções. A meninada sempre correu, corre e correrá em raias diferentes. Não é por isso que devemos desprezá-los. Tem-se a impressão de que hoje está pior. Não seria só impressão?
Quando se descrê da juventude, nada mais se pode fazer. O jovem que se rebela é a nossa própria consciência que nos acusa de nossas deficiências, de nosso apego a valores ultrapassados ou mal interpretados. Nós, os adultos, criamos para eles um mundo de violência, de ódios, de vinganças, de trapaças, da mais deslavada pornografia, de mentiras, de hipocrisia, de politicagem podre. Ninguém nega que a droga esteja correndo solta. Crimes e assaltos como consequência. Não seriam os adultos os culpados de tudo isso? Pense. Não são os jovens que possuem os laboratórios e preparação de cocaína. Não são eles que plantam a erva. Não são eles que fazem o transporte. Não são eles os traficantes.
As coisas correriam mais facilmente se descobríssemos que os jovens não são os mais culpados. Há muito adulto pior do que eles. Os jovens se drogam e os adultos se enriquecem com o dinheiro do crime. Não podemos matar a Esperança depositada em nosso coração. Mesmo que esse coração tenha mais de oitenta anos.