Estimado leitor, é preciso dizer com todas as letras: é bom ser do bem. É claro que tal afirmativa caminha na contramão daquilo que, hoje, boa parte das pessoas acredita. Os valores estão invertidos a tal ponto que ser do mal parece ser mais negócio. Aceitam exemplos?
O aluno que se saiu muito bem nas avaliações do mês se vê obrigado a esconder suas notas para não ser taxado de CDF (penso que todos conhecem o significado da sigla) por colegas que se saíram mal. E o pior é que estes não sentem nenhum tipo de vergonha em festejar seu fracasso, emudecendo aqueles que, de fato, teriam o que comemorar.
Ainda no âmbito escolar, surpreende-me muito alguns alunos universitários que torcem para que os seus professores faltem e, consequentemente, não haja aulas. Não percebem que uma das poucas chances de eles conseguirem vencer na vida é justamente se seus professores derem aulas e se usufruírem do conhecimento que lhes é ofertado.
Na atual novela das oito, veiculada pela Rede Globo, o filho, às gargalhadas, contou aos pais que fingiu pedir informações a um idoso somente para que ele se aproximasse do carro em que estava com um grupo de amigos. Ao se aproximar, o senhor teve o pó do extintor de incêndio descarregado no rosto. Reação dos pais: deleitaram-se com a capacidade criativa do filho. Na vida real, infelizmente, não tem sido diferente. Muitos pais aplaudem verdadeiras bizarrices que os filhos fazem.
Nas empresas, não é raro que os bons funcionários sejam alvo de chacotas simplesmente por fazerem o seu trabalho. Os outros, que dão o nó no serviço, em muitos casos, passam-se por modelos a serem copiados e imprimem sua ética e estética sob os demais. Resultad os bons são estimulados a deixar de ser bons.
Exemplos outros não faltam e poderíamos encher toda essa página, mas não é esse o objetivo. Em vez disso, perguntemo-nos: quais as razões que levam as pessoas a adotarem comportamentos explicitamente equivocados em substituição aos indiscutivelmente corretos?
Sim, porque, basta uma olhadela para se constatar que muitas pessoas acham careta, cafona, démodé ser do bem e pensam que ser do mal é muito mais interessante. Seria possível encontrar a causa para essa profunda inversão de valores?
Dentre os possíveis fatores, um me chama a atençã a falsa ideia de que hoje tudo é relativo e que, portanto, não há mais certeza de nada, não havendo critérios sólidos para balizarmos nossas ações. Assim, podemos tudo.
Essa ideia me parece inadequada, por dois motivos: primeiro porque existem, sim, verdades absolutas e atemporais, como as que tornam o homem honrado, honesto e digno, por exemplo. Desde sempre, o homem busca a Honestidade, a Honra, a Dignidade. Além disso, o relativismo, se levado ao extremo, entra em contradição consigo mesmo. Ou seja: eu posso relativizar a premissa de que tudo é relativo.
Diante do exposto, gostaria de convidar a todos a bradar, onde quer que seja, que é bom ser do bem. Se não fizermos isso, chegará um ponto em que será inútil defender essa ideia.
(*) Doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira e da Facthus