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É bom ser do bem

Estimado leitor, é preciso dizer com todas as letras: é bom ser do bem. É claro que tal afirmativa caminha na contramão daquilo que,...

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 13:57
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Estimado leitor, é preciso dizer com todas as letras: é bom ser do bem. É claro que tal afirmativa caminha na contramão daquilo que, hoje, boa parte das pessoas acredita. Os valores estão invertidos a tal ponto que ser do mal parece ser mais negócio. Aceitam exemplos?

O aluno que se saiu muito bem nas avaliações do mês se vê obrigado a esconder suas notas para não ser taxado de CDF (penso que todos conhecem o significado da sigla) por colegas que se saíram mal. E o pior é que estes não sentem nenhum tipo de vergonha em festejar seu fracasso, emudecendo aqueles que, de fato, teriam o que comemorar.

Ainda no âmbito escolar, surpreende-me muito alguns alunos universitários que torcem para que os seus professores faltem e, consequentemente, não haja aulas. Não percebem que uma das poucas chances de eles conseguirem vencer na vida é justamente se seus professores derem aulas e se usufruírem do conhecimento que lhes é ofertado.

Na atual novela das oito, veiculada pela Rede Globo, o filho, às gargalhadas, contou aos pais que fingiu pedir informações a um idoso somente para que ele se aproximasse do carro em que estava com um grupo de amigos. Ao se aproximar, o senhor teve o pó do extintor de incêndio descarregado no rosto. Reação dos pais: deleitaram-se com a capacidade criativa do filho. Na vida real, infelizmente, não tem sido diferente. Muitos pais aplaudem verdadeiras bizarrices que os filhos fazem.

Nas empresas, não é raro que os bons funcionários sejam alvo de chacotas simplesmente por fazerem o seu trabalho. Os outros, que dão o nó no serviço, em muitos casos, passam-se por modelos a serem copiados e imprimem sua ética e estética sob os demais. Resultad os bons são estimulados a deixar de ser bons.

Exemplos outros não faltam e poderíamos encher toda essa página, mas não é esse o objetivo. Em vez disso, perguntemo-nos: quais as razões que levam as pessoas a adotarem comportamentos explicitamente equivocados em substituição aos indiscutivelmente corretos?

Sim, porque, basta uma olhadela para se constatar que muitas pessoas acham careta, cafona, démodé ser do bem e pensam que ser do mal é muito mais interessante. Seria possível encontrar a causa para essa profunda inversão de valores?

Dentre os possíveis fatores, um me chama a atençã a falsa ideia de que hoje tudo é relativo e que, portanto, não há mais certeza de nada, não havendo critérios sólidos para balizarmos nossas ações. Assim, podemos tudo.

Essa ideia me parece inadequada, por dois motivos: primeiro porque existem, sim, verdades absolutas e atemporais, como as que tornam o homem honrado, honesto e digno, por exemplo. Desde sempre, o homem busca a Honestidade, a Honra, a Dignidade. Além disso, o relativismo, se levado ao extremo, entra em contradição consigo mesmo. Ou seja: eu posso relativizar a premissa de que tudo é relativo.

Diante do exposto, gostaria de convidar a todos a bradar, onde quer que seja, que é bom ser do bem. Se não fizermos isso, chegará um ponto em que será inútil defender essa ideia.

(*) Doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira e da Facthus

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