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Duas medidas

Li na imprensa: desempregado é preso

Terezinha Hueb de Menezes
Publicado em 07/04/2013 às 13:54Atualizado em 19/12/2022 às 13:48
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Li na imprensa: desempregado é preso em supermercado, acusado de furtar chocolates para presentear as filhas na comemoração da Páscoa.

Fiquei pensand um lar, o pai desempregado, os meios de comunicação bombardeando as pessoas sobre as delícias dos chocolates sofisticados, ovos de Páscoa de um quilo, recheios se derramando da peça aberta para esbugalhar, na vontade, os olhos das crianças, pressionando os pais para o consumo comercial.

Criança não entende sobre desemprego, premências e carências: criança quer mais é ganhar, seja chocolate, na Páscoa, seja brinquedo no Natal.

O sentido de ambas as datas, desvirtuados: os heróis, já há muito tempo, respectivamente, o coelho e o Papai Noel. As figuras de Cristo ressuscitado e do Menino Jesus, centros das comemorações, quase desaparecem sob as sombras da invencionice popular.

Vi opiniões variadas: houve até quem lastimasse não estar aqui para pagar pelo chocolate e tentar arrumar emprego para o pobre pai. Houve quem dissesse sobre a necessidade da medida tomada pela empresa e pela polícia para não abrir precedente, caso o problema fosse ignorado.

Mas o que me preocupa mais, além da aflição constrangedora do pai, é a desigualdade no julgamento do pobre em relação ao julgamento dos poderosos, dos, para mim, hediondos crimes do colarinho branco. Os leitores se lembram da Jorgina de Freitas, com desvio de dinheiro público na ordem de 310 milhões? E do juiz Nicolau dos Santos Neto, com outros tantos milhões? E quantos mais, por este Brasil afora? Os rombos do dinheiro público, todos sabemos, é que vão comprometer o bom desempenho nas áreas prioritárias para o cidadão comum: por isso, em parte, o caos na saúde, na educação, na moradia, na segurança. O que escapole do erário público, por meio da “gatunagem”, é, em parte, o que falta na vida dos mais carentes.

Fiquei pensando na situação do pobre pai desempregad ele não furtou nada para si. Nem uísque, nem celular, nem algum objeto supérfluo de uso pessoal. Nem carne para o churrasco do domingo. Possivelmente, em sua cabeça, os olhos pidões das filhas, ignorando o que representam as garras do desemprego, talvez faltando o básico em casa, mas sendo essencial para as crianças: em vez da comida, o chocolate, fazendo brilhar olhinhos gulosos, na guloseima tão desejada.

Penso, em minha visão de mãe e avó, que talvez outras saídas, centradas na discrição, prudência e na fraternidade, pudessem ter sido adotadas. Quais? Tenho certeza de que cada um, com espírito fraterno, saberia encontrar, e que não fossem, simplesmente, a detenção de um pai amoroso e aflito.

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro [email protected]

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