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Dog Bakery

Com este nome, um tanto quanto sofisticado, foi inaugurada, em São Paulo, uma nova panificadora

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 26/02/2011 às 19:45Atualizado em 20/12/2022 às 01:28
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Com este nome, um tanto quanto sofisticado, foi inaugurada, em São Paulo, uma nova panificadora.  “Dog Bakery” nada mais é do que “Padaria para Cachorro.” Sei que não é muito “delicado” chamar um cão de cachorro. É quase uma falta de consideração com as altas linhagens que transitam pelas ruas, suavemente guiadas por tão distintas senhoras. É quase um insulto. Sei disso. O que acontece é que ando meio atrasado com a nossa evolução semântica.  Portanto, o dito pelo não dito. Onde estiver escrito “cachorro”, leia-se “dog”.

Não sei se a colunável em mais evidência nas páginas sociais esteve presente. Também não sei se ela paga para aparecer todas as semanas nas colunas sociais. É problema dela e não meu. O que sei é que houve uma badaladíssima inauguração. Compareceram vários cães colunáveis. Vários deles trazendo no pescoço correntinhas de ouro gravadas com o nome e linhagem de cada um. Há cães de alta linhagem, não sabia? Naturalmente, banhados com xampu francês e devidamente penteados para tão importante acontecimento.

”Dog Bakery”!  Para muita gente, usar termos em inglês revela cultura e gosto refinado. Não ficaria bem para uma casa de tão alta nobreza ser  chamada de Padaria de Cachorro. É preciso sofisticar para dar importância e laivos de modernidade.  Sugiro até que se coloque no frontispício da empresa um escudo estampando um “cão rampante”.

O nome da nova padaria me fez lembrar do detetive imortalizado por Conan Doyle, o famoso Sherlock Holmes.  Não porque tivesse ele um cão ou uma padaria, mas porque morava na Baker Street, o que em bom português significa Rua do Padeiro. Traduziram os feitos do ilustre morador, mas conservaram o nome da rua no original. Não ficaria bem para ele morar na Rua do Padeiro. Seria uma degradação. O nome da rua, em inglês, acrescenta pontos na escala social.

A reportagem traz, minuciosamente, o nome e a especificação dos alimentos vendidos naquela “bakery”. São croissants, rosquinhas, palitos, cascudinhos, brevidades, bombinhas recheadas, sequilhos, bolos, torradinhas, bons bocados e tudo o mais que se encontra nas melhores padarias para humanos.  Os alimentos apresentados são devidamente selecionados, balanceados, preparados com as mais requintadas normas de higiene alimentar, de acordo com o gosto dos fregueses. Nada que contenha açúcar, para evitar mau hálito. Nada de condimentos que provoquem suores fétidos. Nada de aditivos químicos, como sulfito de sódio e outros, para evitar dores de barriga.  Foi feita, antecipadamente, uma pesquisa por alguns PhDs no assunto para descobrir os gostos alimentares de cães de tão fidalga linhagem e de tão refinado paladar.

E assim caminha a humanidade, tomando Coca Cola, ingerindo ketchups, danones, mostarda, hot dogs e outros venenos. Sentamo-nos, tranquilos nos Mcdonalds da vida e sorrimos felizes empanturrando-nos de frituras padronizadas.  Help!

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