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Difícil acreditar

Que a nossa vida terrena é passageira, e muito, todos nós sabemos

Terezinha Hueb de Menezes
thuebmenezes@hotmail.com
Publicado em 04/09/2010 às 20:14Atualizado em 20/12/2022 às 04:27
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Que a nossa vida terrena é passageira, e muito, todos nós sabemos. E ficamos às vezes nos questionando se vale a pena tanto investimento em pesquisas, estudos durante tantos anos da existência, tudo isso muitas vezes sem o tempo necessário para produzir os frutos que o ser humano idealiza.

Enfim é assim nossa vida: uma peleja desde a infância, peleja para muitos prazerosa, mas peleja. Estudos regulares, cursos paralelos, uma corrida quase maluca para se atingir, lá na frente, um bom desempenho profissional, sucesso de vida.

Mas é assim mesmo, e não há como fugir dessa realidade.

E penso sempre: se reduzirmos nossas vidas ao célere tempo que aqui vivemos, encontraremos o vazio existencial. Nós que cremos em uma outra vida, em que as tribulações humanas deixam de existir e na qual é possível encontrar a felicidade plena diante da face de Deus, assustamo-nos com a leviandade com que muitos encaram o desenrolar da própria trajetória terrena.

Todo esse preâmbulo se deve a um diálogo ouvido em determinada loja, eu sem poder sair dali e ouvindo mesmo sem querer.

Eram duas jovens senhoras. Muito bonitas, por sinal. Uma comentava sobre o preço de uma bata, adquirida em uma de suas viagens. Altíssimo. Exorbitante (na minha ótica). Fiquei imaginando que deveria ter incrustações de ouro ou brilhante, para valer tanto. Mas para a jovem senhora era um comentário feito com naturalidade, como se fosse muito normal pagar-se tal preço. E eu pensei: cada um gaste como melhor lhe aprouver. O inusitado, porém, ficou com a fala da outra jovem senhora, admirando-se com o valor “tão razoável”, uma vez que a roupa que esta última adquirira havia sido comprada com valor bem mais elevado. E começa, aí, uma discussão civilizada sobre quem gastava mais e com quê, cada uma querendo ser superior à outra no consumismo. Isso me assustou. Que valores moviam pessoas tão apresentáveis, mas tão vazias? Por que a disputa sobre quem gastava mais e com quê?

Lembrei-me de uma visão no supermercad um jovem pai, simples no modo de se vestir, uma cesta à mão – e não um carrinho, já que possivelmente não poderia ocupá-lo nem pela metade, o filho de seis ou sete anos agarrado à sua calça, escolhendo, com muito cuidado, o que comprar, possivelmente, fugindo daquilo que os olhos gulosos do filho desejava.

As duas imagens se me alternavam na cabeça: a leviandade das duas jovens senhoras, a premência existencial do jovem pai. Diante delas, a discrepância de valores. Para as jovens senhoras, valor era disputar gastos desnecessários. Para o jovem pai, valor era conseguir levar comida, ainda que a essencial, para o filho.

Diante de tudo isso, a preocupação maior: nesta nossa vida tão rápida, tão passageira, que valores deveriam ser cultivados? Vale a pena preencher a existência com o vazio de concepções e atitudes levianas e inúteis? Diante de Deus e diante dos homens, vale a pena investir em superficialidades que em nada promovem o crescimento humano?

E outra preocupaçã como é possível uma educação tão truncada, no primeiro caso, a ponto de inverter valores preciosos? E como seria a educação dos filhos diante de tais exemplos? São apenas indagações. As conclusões, fiquem por conta dos leitores...

(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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