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Deus é Mãe (Papa João Paulo I)

No meu último ano de colégio, o professor de religião pediu-nos que dissertássemos

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 10/09/2011 às 19:35Atualizado em 17/12/2022 às 07:26
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No meu último ano de colégio, o professor de religião pediu-nos que dissertássemos sobre as principais virtudes que deveriam caracterizar a vida de um bom padre. Fiz uma lista daquelas que, naqueles tempos, achava realmente importantes. Em primeiro lugar, a obediência, virtude sagrada para os padrões da época. Naquele tempo, a obediência aos superiores era fundamental. Segundo nossos orientadores, “a voz do superior era a própria voz de Deus”. No internato, o toque da sineta tinha alguma coisa de sagrado. Éramos programados a sentir naquele som algo de divino. Padre santo era o padre que obedecia a seu bispo, que não discutia nunca suas ordens, mesmo quando erradas.

Além da obediência, devo ter elencado mais umas cinco ou seis, acrescentando a ternura como uma delas. O professor não gostou, grafando ao lado de meu escrito, com tinta vermelha e em bela ortografia, o seguinte: “Ternura não é virtude masculina”. Parece que, para ele, o padre deveria ser carrancudo, rude e grosso.

Quando se descobre as linhas mestras da personalidade de Jesus, percebe-se que Ele sempre foi dominado por uma ternura muito profunda. Não é pieguice. É coisa muito mais significativa. Foi terno com os doentes, com as crianças, com as prostitutas, com as adúlteras, com os pobres, com todo tipo de marginalizados. Por outro lado, foi duro com os hipócritas, para com os que se enriquecem com religião, para com os donos do poder religioso que exploram os pobrezinhos com impostos escorchantes.

 “Ternura” é uma força sem dureza. É o contrário da agressão, é o oposto da brutalidade e da estupidez. Posso até ir além e dizer que a agressividade é uma fraqueza. Ternura tem muito a ver com compaixão. Com tranquilidade. Com equilíbrio interior. Com paz. Como ouvir, sem ternura, os lamentos do irmão? Como  dar um conselho sem ternura? Como ensinar sem ternura? Como dar uma esmola sem ternura? Não seria um insulto?

Será por que aquele meu professor ficou tão indignado? Não seria ele um misógino enrustido? Hoje há muitos assim.

Abolir a ternura de nossa vida não seria abolir a presença de Deus? Você se lembra das palavras de Jesus, “seus pecados lhe foram perdoados porque ela muito amou”? Achei genial a afirmação do Papa João Paulo I: “Deus é mãe”. Diz tudo. Não tem sentido fazer diferenças quantitativas entre as virtudes. Virtude é força. É sensatez.  É ver Deus na pessoa do outro, mesmo sendo de outra religião. O carinho com todos que o procuram. Que tipo de pessoas Jesus condenava?  Eram os fariseus. Eram intransigentes, eram duros de coração.  Santo para eles eram aqueles que cumpriam as leis.

             

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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