Constantemente, assoberbam-me a cabeça os desencontros e os contrastes da vida humana
Constantemente, assoberbam-me a cabeça os desencontros e os contrastes da vida humana. São sentimentos que, em todos os tempos, atropelaram e continuam atropelando a sensibilidade daqueles que observam, com maior acuidade, o que ocorre ao seu redor.
Antigamente, sabíamos dos fatos pelos jornais, ou por ouvir contar. Hoje a televisão e a internet nos fazem engolir, mesmo que a contragosto, tantos acontecimentos que nos entristecem mais e mais.
Em sequência, as notícias se mostram tão rápidas que, às vezes, nem permitem aos apresentadores mudar as feições quando transitam de uma notícia alegre para outra triste.
Assim, vemos desfilar diante dos olhos a festa do ano de tal personalidade, com esbanjamento de milhões, com a nomeação agressiva de grifes e joias, e outras mais desfilando riquezas incalculáveis, enquanto, em seguida, aparecem as crianças da África com esbanjamento divers a pele sobre os ossos, mães esquálidas lambuzando as bocas dos filhos com aquilo que lhes permita alimentá-los para que não morram de fome. E vemos passar, ainda, procissões intermináveis de miséria desesperançada, em rostos que não apresentam revolta, nem ira, mas uma conformação com a vida, como se fosse sina de cada um sofrer todos os tipos de miséria.
E nem precisamos adentrar o território africano para constatar o nível de marginalidade do ser human basta dar uma passada de olhos em vários territórios do Brasil, até mesmo à nossa volta, e a situação não será diferente. São irmãos nossos que, por falta de oportunidade, vivem de forma inferior à de animais irracionais.
Enquanto isso, nos “palácios”, esbanja-se o dinheiro público em atos de corrupção deslavada: o que poderia alimentar milhões de brasileiros, dar-lhes educação, saúde, moradia e segurança, entope os cofres daqueles que fazem da política, não o bem de todos, mas o bem pessoal.
E “assim caminha a humanidade”, e caminhamos nós, transitando da esperança para a desesperança, concordando, mais uma vez, com Chico Buarque: “E aí me dá uma tristeza no meu peito / Feito um despeito de não ter como lutar / E eu que não creio peço a Deus por minha gente / É gente humilde, que vontade de chorar!”
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro