Penso que não há quem não se sinta indignado com as notícias veiculadas em profusão nos últimos dias, relatando abusos praticados contra crianças
Penso que não há quem não se sinta indignado com as notícias veiculadas em profusão nos últimos dias, relatando abusos praticados contra crianças e, assim sendo, aqui do meu canto, sinto-me impulsionada a tocar nesse assunto novamente.
Fenômeno que acontece em todas as classes sociais, o abuso infantil pode acontecer de muitas maneiras, mas normalmente é categorizado como dano físico, negligência, abuso sexual ou abuso emocional.
As famílias abusadoras têm características comuns, tais como pais imaturos e emocionalmente instáveis com relacionamentos interpessoais empobrecidos; pais que também sofreram agressões e abusos na sua infância, dependentes de bebidas ou drogas, histórico de doença mental ou inteligência limitada e situações em que um dos parceiros não é o pai biológico da criança.
Diante de abusos revelados ficamos divididos entre o desejo de punição para o autor e a vontade de defender suas inocentes vítimas. Especialmente para quem trabalha com crianças e adolescentes, alguns sinais podem servir como indicativos para uma equipe de trabalh aparência sempre tensa, relutância em voltar para casa e também para tirar a roupa durante a prática de esportes ou jogos, evitação de contato, falta de concentração, ansiedade constante, choro sem motivo, masturbação ou interesse sexual evidente e exagerado para a idade.
Em crianças mais velhas pode ser observada depressão, comportamento reservado, pensamentos suicidas, baixa auto-estima, uso de álcool e drogas.
As crianças abusadas experimentam sentimentos que distorcem sua visão de mundo e abalam sua confiança nas pessoas, levando-as à raiva e ao ressentimento, dor, confusão, traição e auto-aversão.
Os abusos sexuais são cometidos em sua maioria por alguém que a criança ama e confia – pais, padrastos, tios, padrinhos, religiosos. Ameaçada, fica isolada com esse terrível segredo e sentindo-se violentada, culpada, envergonhada, sem conseguir dizer “não” ao agressor.
O adulto que recebe uma confissão de abuso infantil deve ser compreensivo e solidário. Não deve demonstrar choque ou descrença. Deve sim, deixar a criança segura de que pode confiar nele e tentar fazê-la compreender que essa informação poderá ser compartilhada com outros profissionais que ajudarão a mantê-la em segurança, até que a situação se resolva.
A omissão ao se constatar um caso de abuso é crime previsto em lei, mas como sua denúncia terá consequências que poderão ser irreversíveis na vida da criança, ela deve ser feita com cautela e sem precipitação junto aos órgãos de defesa da criança, que procederão investigações adequadas.
Considero também nunca ser demais alertar aos pais e educadores que, uma das formas de prevenção ao abuso sexual, é ensinar à criança desde pequenina que seu corpo lhe pertence e que ela tem o direito de pedir aos outros que não lhe toque se não quiser ser tocada, bem como que deve contar a uma pessoa de sua confiança – coisa difícil quando o abusador deveria ser seu protetor – o que está lhe acontecendo.
Embora não tenhamos como banir do mundo esse tipo de crime que rouba a inocência de nossas crianças, torçamos para que os adultos reconheçam suas responsabilidades frente às gerações mais jovens, dentre elas a de protegê-las e torná-las mais felizes.
Enquanto esse tempo está sendo gestado, que os crimes de abusos contra crianças, em qualquer de suas modalidades, sejam devidamente punidos.
(*) terapeuta das Perdas e do Luto; mestre em Psicologia Clínica; palestrante