ARTICULISTAS

Da importância da mentira

Se alguém disser a você que não mente, pode ter a certeza de que é um mentiroso

Padre Prata
Publicado em 12/02/2011 às 19:27Atualizado em 20/12/2022 às 01:44
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Se alguém disser a você que não mente, pode ter a certeza de que é um mentiroso. Todos nós mentimos. A mentira é um dos fatores importantes do equilíbrio social. Se não mentíssemos, nosso relacionamento seria um desastre. Não estou me referindo àquela mentira que revela falta de caráter, que é usada para prejudicar os outros, para destruir o bom nome do próximo. A mentira que comento é a mentira familiar, a mentira social, a mentira da convivência. Dou exemplos. Numa visita, servem-lhe um café. Um café horrível. É tragado com sacrifício. Vem o dono e pergunta: “Gostou de meu cafezinho?” E você responde com a melhor cara do mund “Há muito tempo não tomo um café tão bom assim. Parabéns!” Outro exempl “Gostou de meu novo penteado?”. Não podia ser pior, mas você responde, deslumbrad “Ficou ótimo para você. Não sabia que você tivesse gosto tão refinado.” Mais um:”Enviei-lhe meu novo livro. Gostou?” “Lógico que li e gostei. Aquele final, então, revelou todo seu espírito criativo. É uma riqueza para nossas letras.”

Todo mundo mente para evitar situações desagradáveis. Eu, você, o médico, o comerciante, o advogado, o bispo, o prefeito, todo mundo. Esse tipo de mentira não constitui nenhum pecado. Não prejudica ninguém. Não impede o crescimento do outro. Não faz tempo, telefonei para um amigo (?). A empregada atendeu: “O fulano está em casa.?” “Deixa eu ver”. Logo em seguinte, com toda convicçã  “Ele mandou dizer que deu uma saidinha, é pro senhor chamar mais tarde”. Os dois mentiram.

Em nossa linguagem de família existem muitas subtilezas ocultas em cada palavra. Há atenuantes e agravantes em cada entonação. É difícil interpretar a intenção do outro através das palavras. Por isso, não posso julgar o outro com segurança. Só Deus. Quando se trata de crianças, a situação é mais delicada.

Mentimos muito para as crianças. Lembro-me de várias. Às vezes são mentiras santas. Eu deveria ter uns 9 anos. Na fazenda,  numa noite, sob a luz de uma lamparina de querosene, minha mãe escrevia uma carta para meu irmão que estava estudando no Rio. Sem que ela percebesse, cheguei por trás e fiquei lendo o que ela escrevia. Lá pelas tantas, li o seguinte: “Meu filho, não frequente bordel”.  E eu, fui logo perguntand “Mãe, o que é bordel”. E ela, sem vacilar: “Bordel, meu filho é uma confeitaria lá no Rio, onde ajunta muita gente que não presta”. Ela não me enganou, só mudou o nome da casa... Não foi uma mentira. Minha santa mãe...

Não se deve mentir às crianças. O importante é falar a verdade de tal modo que não se faça com que a criança perca a fé nos adultos. É uma arte que se consegue com maturidade e muita oração.

Há situações muito difíceis. São aquelas em que a verdade deve ser dita. Nessas situações é preciso implorar ao Espírito Santo de Deus que nos dê o dom da Sabedoria para dizer a verdade sem criar problemas na cabeça da criança. Outra coisa, responder só ao que a criança perguntou. “Não espiche” o assunto. Não crie novos problemas, principalmente quando se trata de assuntos relativos a sexo. Com inteligência,  os pais encontram sempre maneiras de responder às coisas mais delicadas sem levantar outras dificuldades.

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