Em uma roda, o amigo exclamou, sem vacilar: “Agora vou correr atrás do prejuízo.” Quase de imediato, alguém da roda devolveu: “Não se corre atrás do prejuízo, mas do lucro.” Surpreso, o rapaz...
Em uma roda, o amigo exclamou, sem vacilar: “Agora vou correr atrás do prejuízo.” Quase de imediato, alguém da roda devolveu: “Não se corre atrás do prejuízo, mas do lucro.” Surpreso, o rapaz, que já estava de saída, “colocou a viola no saco” e se despediu.
Certos locutores esportivos estão sempre às voltas com a expressão “correr atrás do prejuízo”, quando o time que está perdendo o jogo, precisa se esmerar um pouco mais para sair do sufoco. O certo é que o time não vai correr atrás do prejuízo, como se quisesse conquistá-lo para si; pelo contrário, tentará correr dele, para se ver longe da derrota, ou seja, correrá atrás do lucro. A expressão equivocada caiu na boca do povo e hoje se pode perceber um esforço para corrigi-la. É também o que tem acontecido com a expressão “risco de vida”, que tem sido substituída pela forma correta: “risco de morte”. As expressões populares são bastante pitorescas. Quando narramos que o rapaz “colocou a viola no saco”, ficou claro que a personagem não tinha mais o que dizer. E como, quando e por qual razão surgiu essa expressão, tão sugestiva, usada pelo povo? Essa curiosidade é o que move muitos linguistas e outros estudiosos da língua a desenvolverem diversas pesquisas. Uma dessas pesquisas trata, por exemplo, de uma expressão usada em momento de impasse, para indicar “um beco sem saída”: um tropeiro, à beira da cerca, teve o chapéu abocanhado por um boi. Para definir a situação do tropeiro e sua indecisão a respeito de como agir no momento, surgiu o dit “Se puxar, o chapéu rasga; se deixar, o bicho come.” Aliás, em verdade, o homem vive eternos impasses. Par ou ímpar? Esquerda ou direita? Sobe ou desce? À vista ou à prestação? E para ajudá-lo a fazer sua opção, às vezes ele se deixa levar por uma conversa longa e enfadonha, que termina por ganhar um comentário jocoso de alguém: “Isto é conversa mole para boi dormir” – frase consagrada em uma alegre canção carnavalesca de Braguinha e Alberto Ribeiro. Em uma agência bancária, recentemente, uma garota entrou numa fila destinada ao atendimento especial. Alertada por um funcionário, ela retrucou, para todos ouvirem: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira” – valendo-se da frase também imortalizada por outra marcha carnavalesca. A moça não parou por aí e acrescentou, de maneira incisiva: “E vou ser atendida nesta fila!”. Se o funcionário insistisse, a arenga estaria fadada a um “espicha-encolhe” infinito. E como “para bom entendedor, meia palavra basta”, o diálogo terminou, uma vez que o rapaz teve o bom senso que faltara à mocinha. “Cada roca com seu fuso, cada terra com seu uso.” E os ditos e expressões populares vão colorindo o cotidiano de cada povo, imprimindo um sabor especial a cada momento, dando novas nuances ao imaginário coletivo e transformando dia a dia a nossa língua. Mário Salvador membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro Mário Salvador escreve às terças-feiras neste espaço