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Coragem, coragem

A vida é uma arte. Bela, mas perigosa. Perigosa como o sertão, diria Guimarães Rosa

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 27/12/2014 às 18:29Atualizado em 16/12/2022 às 03:43
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A vida é uma arte. Bela, mas perigosa. Perigosa como o sertão, diria Guimarães Rosa.

A vida vivida não é para covardes, tampouco para extrema ousadia. Medo demais é covardia, na medida, é prudência.

Coragem demais é imprudência, de menos é fraqueza. Temos que temperá-la. Equilibrá-la.

Há tempos que a alegria nos contagia. Mas, somos muitas vezes alcançados pela tristeza.

A felicidade, porém, está ao alcance de todos. Não está atrelada à riqueza, mas à sabedoria emocional. Aí está a prova de que Deus permitiu a qualquer um de seus filhos alcançá-la. Há no mundo "ricos" infelizes e "pobres" felizes.

Certo que na vida há noites e dias, alegrias e tristezas, temos que aprender a conviver com a perda. Conviver com a glória,  com a vitória, é fácil. Difícil é aprender perder.

Sábio, porém, é aquele que aprende a perder, afinal, é impossível desviar na vida de todos os infortúnios.

Seguro, também, que a vida é o resultado de nossas decisões. E podem essas decisões  ser as necessárias ou, quando não obrigatórias, podem não ser tomadas em face do comodismo ou da covardia. As decisões da vida, quando possível, devem ser tomadas

mediante prévia e cuidadosa avaliação, para que não importe em duplicação de erros. Contudo, também é sabido que é preferível arrepender-se do que fez que ao que não fez...  "Nada do que posso me alucina tanto quanto o que não fiz", diz a poesia.

esse contexto, há um ato que é pecado vital. Não se pode trair a si mesmo. É pior que o pecado mortal religioso, penso eu.

Há tempos que a amargura vem e toma conta de nós. Desviamos o olhar direto do nosso próprio  olhar porque sabemos que não estamos felizes. Engolimos a cada dia o fel da tristeza disfarçado de cotidiano, mas sabemos que nosso sorriso não é o que expressa a verdadeira alegria, o vibrar solto do coração contente. Quando felizes, o cotidiano é doce, não é questionado.

Caso fujamos dessa verdade, de que tristes estamos, poderemos ao final do viver fechar o último olhar cobrando-nos pela covardia de não ter enfrentado a necessidade de mudança de curso. De reconhecer que errou, que perdeu, e que precisa recomeçar em busca da felicidade, razão do viver. Deve ser duro demais fechar para si os olhos e confessar-se que traiu-se, que não foi amigo de si, que não se deu conta de reconhecer a necessidade de enfrentar a batalha principal, a favor de você, e naturalmente em benefício dos que o cercam. Afinal, quem está ao lado de infeliz, feliz não se sente.

Mas, não se pode desviar o olhar de si mesmo para sempre, sob pena de se perder em definitivo. Fugir de si é tarefa difícil, é como viver com uma sombra sinistra de si mesmo, gélida, insinuante, agressiva, constante, impiedosa, a despeito de parecer silenciosa. Corrói, adoece, machuca, ofende, massacra, pois destrói o fugitivo de si mesmo levando consigo a derrota para a imensidão do túmulo.

Portanto, meu prezado, olhe para dentro de si, caso se veja nessa situação. Dê-se o tempo necessário da prudência para avaliar se a tristeza é sólida que não se dissipa por mera alteração de modos. Mas, caso veja que ela é real e não pode estar dentro de si, tenha coragem. Mude o curso. Recomece, como o dia a cada amanhecer. Não se imponha a tristeza final de não ter tentado dar a você a felicidade. Pelo menos tentado. Tenha, contudo, a sabedoria de saber o que pode e o que não pode.

Coragem.        

(*) Juiz de Direito

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