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Consequências

Não é fácil conviver. Nem é fácil entender o outro e o que se lhe passa na cabeça

Terezinha Hueb de Menezes
Publicado em 17/09/2011 às 20:02Atualizado em 19/12/2022 às 22:18
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Não é fácil conviver. Nem é fácil entender o outro e o que se lhe passa na cabeça. Por isso a dificuldade em julgar.

Quem julga avalia segundo os próprios parâmetros. Segundo a própria visão de homem e de mundo. Não possui, pois, o dom de adivinhar os fatores que impulsionam o agir do outro.

Tal agir não é resultado de um momento na vida, de uma ação apenas do presente, nem de deliberação assentada na responsabilidade consciente. Muitas vezes, por trás de atitudes que causam estranheza a quem as vê, existe uma caudal de problemas, de complexos, de incompreensões, de insegurança: filhos que jamais conheceram os pais, dificuldades financeiras levando a carências básicas na infância, ligadas até ao sofrimento da fome, violência e agressões sofridas, preconceitos frequentes na escola, dificuldades de relacionamento social e muito mais.

Não podemos esquecer-nos que a infância constitui a fase mais importante na formação da personalidade do ser humano e, principalmente, no desencadear de seu mundo emocional. Infância eivada de problemas de toda ordem sem resolução nos momentos necessários, logicamente, desencadeará, na vida de quem os vivenciou, traumas e complexos que poderão provocar comportamentos muitas vezes incompreendidos por aqueles que a eles assistem.

É comum que se percebam problemas já no início da vida escolar: dificuldade de relacionamento com os colegas, busca de isolamento acentuado, dificuldade de concentração, reações inesperadas e ou imotivadas de agressividade, alheamento melancólico são características comuns, isoladas, alternadas ou com mais de uma em conjunto de atitudes.

Tudo aquilo que marca negativamente a infância, se não trabalhada a sua superação, prolonga-se na vida juvenil e adulta, provocando as reações que nem sempre entendemos ou aceitamos, mas que não temos competência para julgar. Cada um é cada um: não podemos avaliar o outro segundo a aparência apenas, sem conhecer o que lhe vai na alma, muito menos a carga hereditária das situações vividas.

Por tudo isso a dificuldade, muitas vezes, da convivência saudável e o perigo do julgamento precipitado. Lembro o poeta Cruz e Souza: “Se se pudesse, o espírito que chora, / Ver através da máscara da face ...” Se pudéssemos adentrar o interior da alma humana, com toda a carga de problemas insolúveis que ela carrega, talvez conseguíssemos ser menos rigorosos no julgamento do outro, e o outro conseguisse ser menos rigoroso em relação às nossas atitudes, nem sempre compreensíveis, muito menos aceitáveis.

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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