Passo aos leitores mensagem – entre outras ótimas recebidas – de um de meus irmãos, em que tece comentário valioso sobre a temática de meu último artigo.
Passo aos leitores mensagem – entre outras ótimas recebidas – de um de meus irmãos, em que tece comentário valioso sobre a temática de meu último artig nele, questiono a torta orientação de muitos pais diante dos erros dos filhos, superprotegendo-os e justificando-lhes sempre as falhas, por maiores que sejam, principalmente no ambiente escolar. Vale a pena ler (aliás, “a emenda ficou melhor que o soneto”):
“Como sempre, muito bom o seu artigo. A sua conclusão é também interessante e pode aplicar-se à grande maioria dos casos. Acho mais, que o que você diz talvez se aplique muito a países desenvolvidos, onde o desvio em relação à lei (ou regras, no caso de escolas) pode terminar, mais cedo ou mais tarde, a um nível de punição à altura do desvio cometido. Nesses países dificilmente se vê esse tipo de comportamento que, como você diz, pode ser extremamente prejudicial ao desenvolvimento dos filhos.
No Brasil, acho que esse comportamento tem a ver com uma visão míope de certos pais que imaginam que, como eles podem enganar o sistema em proveito próprio, deveriam também ensinar os filhos a fazer o mesmo. Isso faria parte da "educação" dos filhos e de sua preparação para a vida, o que pode representar um erro de avaliação fundamental. Os pais que agem dessa forma são de dois tipos: o primeiro, são indivíduos desprovidos de qualquer indício de moral e nem fazem isso de forma totalmente consciente. Fazem-no porque aprenderam a fazer ou viram na televisão que isso pode trazer benefícios. Mas são grosseiros e terminam por enveredar-se, eles mesmos e sua prole, em meandros obscuros de saída mais ou menos complicada. Mas nunca dão certo, são muito primários para poder dar certo.
O segundo tip são indivíduos que deram certo exatamente por exercer essas práticas de enganar, de driblar o sistema, de caminhar no fio da navalha, entre o legal e o ilegal (não falo nem mesmo do moral ou amoral), muitas vezes com incursões no campo ilegal, mas com saídas estratégicas para a zona legal. É como tentar atravessar a rua fora da faixa de pedestres (que de qualquer maneira ninguém respeita mesmo!), mas se vem carro ou há um guarda, volta-se para a segurança do passeio. Esses indivíduos, que são ladinos e desenvolveram toda uma longa estratégia e técnicas de incursões e evasões, são sutis e podem muito bem angariar fortunas e viver dentro da lei, mesmo estando a maior parte do tempo operando fora dela. Os mais espertos têm a consciência de que esse conhecimento e essas práticas trazem grandes riscos e evitam envolver os filhos, revestindo-se de uma capa de moralidade e austeridade, enquanto cometem os seus crimes. Outros, menos argutos, cometem o erro fundamental de imaginar que os filhos também podem ser ensinados a se comportar da mesma forma, a abrir horizontes para além daquilo que se aceita, tanto na sociedade, como no GPS interno de cada um, a considerar como decente, como bom, como útil não somente para eles, mas também para os outros seres. Muitos podem dar certo, mas muitos podem cair em uma espiral para baixo, culminando com um ajuste de contas: aqui ou em um outro nível.
Mas então há um outro conflit se eu ensino meus filhos a se comportar de forma honrada e os outros não, será que eu estou negando, aos meus, armas valiosas para enfrentar a sociedade corrupta dos nossos tempos? Como prepará-los para competir em igualdade de condições?
De qualquer maneira, na nossa família, acho difícil que, com os ensinamentos através de exemplo de vida do Salim e Zulmira [nossos pais], complementados com a formação transmitida no Colégio pelo Murilo e retransmitidos de geração em geração, qualquer um de nós tenha algo a ensinar ou aprender fora da margem.
Minha contribuição acima é discutível, é só minha opinião. Não tenho nenhuma intenção de ser o dono da verdade. Quem sabe outros podem comentar!”
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro