RENATO ABRÃO

O coração que pulsa por trás do Câncer de Mama

Renato Abrão
Publicado em 29/10/2022 às 18:33Atualizado em 16/12/2022 às 00:02
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Bom dia, leitores! Passei esse início do mês de outubro pensando sobre o tema, visto o excessivo, e até cansativo, bombardeio de informações que envolvem o câncer de mama. Outubro Rosa representa muito além da doença. Ele representa muitas mulheres e diversas famílias, que lutam quando as forças acabam, que adiam planos e vivem a incerteza de voltar a sonhar, que reprogramam suas rotinas para encaixar a rotina exaustiva do tratamento. São homens, pois existe câncer de mama em homens. Como ninguém se lembra disso? Está faltando compaixão pelo ser humano que tenta sobreviver atrás desse diagnóstico e entender todas as mudanças físicas, mentais, sociais e profissionais. Porém, para isso, não há protocolos. Não se aprende na faculdade e pouco se fala na mídia. Essa compreensão, que vai além da doença, acontece com o tempo. Apenas os anos de convivência e sensibilidade com cada história, permitem que o profissional tenha essa percepção.

Ao dar o diagnóstico de câncer de mama para uma mulher, independente da idade e do grau de acometimento da doença, você, automaticamente interrompe muitos planos e projetos que ela tinha em mente. Interrompe uma viagem, um casamento, o projeto de ter um filho, o sonho de ver um filho se formar, de ver um neto nascer... E isso abre muitas feridas nessa paciente, gera revolta, frustração e muito medo. Uma pergunta que surge no meio desse turbilhão de dúvidas e emoções é: eu vou poder, em algum momento, retomar meus sonhos e projetos?

Uma frase muito usada, porém, injusta, é dizer que pacientes jovens têm mais direito de viver que pacientes idosos. Que se a doença for numa pessoa mais velha, é mais aceitável. A vida voa, 80 anos não é nada, passa num sopro, e dos 8 aos 80, sonhamos iguais, queremos viver da mesma maneira, aprender e crescer sem limites. Ninguém quer morrer, ninguém quer ficar inválido, ninguém quer sofrer. Por isso, não se pode tratar um paciente diferente do outro, considerando o fator idade. Temos sempre que lutar para fazer o possível e o impossível por qualquer um que receba este difícil diagnóstico.

O mastologista moderno e atual, tem que saber interpretar as necessidades de seus pacientes, na grande maioria, mulheres. Tem que dar estímulo para que ela retome sua vida profissional, seus relacionamentos, os cuidados com seus filhos, para que essa mulher volte a se sentir viva, se sentir importante e sentir que o câncer de mama é uma batalha vencida. Se não ajudarmos em todos os contextos, estamos falhando em algum ponto no tratamento dessas pacientes.

Para concluir, quero dizer que todo o avanço no tratamento do câncer de mama é maravilhoso, mas não podemos esquecer do ser humano que está de mãos dadas com o diagnóstico e, principalmente, dos seus anseios. Temos que ter a sensibilidade de perceber o que cada um almeja e, acima de tudo, devolver o entusiasmo pela vida. A vida é uma dádiva, devemos aprender com cada batalha (o câncer de mama é apenas uma delas) e agradecer por estarmos vivos. Esse olhar além do corpo físico, só é possível quando temos a disponibilidade e a disposição de individualizar cada tratamento. O conhecimento só é capaz de transformar o tratamento de quem recebe o diagnóstico de câncer de mama, quando ele é colocado em prática e em conjunto com o fluxo da vida.

Bom domingo a todos!

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