A atleta, de 10 anos, optou por concorrer fora do espectro, enfrentando oponentes sem limitações técnicas previstas pelo regulamento
Stephany tem dois irmãos mais velhos, também diagnosticados com TEA, e todos são atletas em diferentes modalidades (Foto/Divulgação)
Aos 10 anos, a estudante Stephany Beatriz Ferreira Nunes, do 5º ano da Escola Municipal Uberaba, tornou-se motivo de orgulho ao conquistar o segundo lugar no Campeonato Mineiro de Karatê, disputado neste domingo (15), em Uberlândia. Mais do que uma medalha, o feito representa uma história de superação, inclusão e apoio coletivo.
Diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC) e Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Stephany decidiu competir na categoria geral, enfrentando atletas sem limitações técnicas previstas pelo regulamento. A escolha, segundo a professora de apoio Cedna Lellis, foi da própria aluna. “Ela poderia ter disputado na categoria de inclusão e, provavelmente, levaria ouro. Mas preferiu confiar no próprio potencial e trouxe a prata para Uberaba”, destacou.
O treinador Marcelo Mendonça também elogiou o empenho e a evolução da atleta. Ele explicou que, em campeonatos anteriores, Stephany chegou a competir na categoria PCD, principalmente nas provas da modalidade kata, mas desta vez optou pela disputa geral. “Ela sempre foi muito esforçada e está sempre buscando evoluir. As condições dela nunca foram um obstáculo, tanto que ela decidiu disputar na categoria geral, junto com as demais atletas sem deficiência. O resultado foi excelente: ela fez cinco lutas, venceu quatro e só perdeu uma, garantindo a medalha de prata no kata feminino”, detalhou.
A participação no campeonato gerou mobilização liderada pela diretora, Ana Silvia, com apoio da comunidade escolar. Por meio de doações internas, a equipe arrecadou R$ 600,00 para ajudar nas despesas da viagem. "Stephany é uma ótima aluna, comprometida com as atividades. Tem várias medalhas em outras modalidades. Para nós, é motivo de orgulho, tanto pelas conquistas quanto pelo exemplo da mãe, que é uma guerreira, sempre incentivando os filhos no esporte", ressaltou.
Stephany tem dois irmãos mais velhos, também diagnosticados com TEA, e todos são atletas em diferentes modalidades. Segundo a mãe, Rakel Nunes, além do karatê, a rotina da jovem inclui ginástica artística, natação, futsal e jiu-jitsu, sempre com apoio da família, professores e amigos. "Com três filhos atletas, manter todos no esporte é um desafio financeiro. Já fizemos vaquinhas, rifas, e o sonho agora é conseguir um patrocínio", contou.
Entretanto, para ela, os benefícios vão muito além das medalhas. “Muitas coisas que eles não conseguiam fazer antes, hoje já conseguem. As crises estão bem mais controladas e a socialização melhorou bastante. Eles amam o que fazem e se destacam. Lembro como foi difícil o primeiro campeonato da Stephany, por causa das crises, e hoje ela chega nas competições e disputa de igual para igual com os demais atletas. É uma satisfação enorme ver isso acontecer", disse a mãe.
Mesmo com as dificuldades, Stephany já se prepara para os próximos desafios. Essa foi a primeira etapa do Circuito Mineiro de Karatê. A próxima será ainda este mês, em Iturama, seguida da final, em Uberaba. Mas o grande foco é o Mundialito, em agosto, na cidade de Santos. “Lá, ela vai ter a oportunidade de competir em um nível ainda mais alto”, finalizou o treinador.