CIDADE

"Infelizmente o cidadão não se conscientiza": só 2% do lixo recolhido em Uberaba é reciclado

Eduardo Marins
Publicado em 17/01/2021 às 10:24Atualizado em 18/12/2022 às 11:52
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Se tem um tema que se arrasta há anos em Uberaba é a discussão sobre a coleta seletiva. Mas afinal o que significa este termo? A coleta seletiva é o meio utilizado para facilitar os processos de destinação do lixo. Quando separamos o nosso lixo, facilitamos o tratamento dele e diminuímos as chances de impacto para o meio ambiente. 

No entanto, de acordo com o promotor Carlos Alberto Valera, que é Coordenador Regional das Promotorias Ambientais, a quantidade que é recolhida do lixo reciclável por meio da coleta é muito baixa. “Estamos muito atrasados, os dados que eu tenho são dados oficiais e trazem que nós só reciclamos 2% do lixo que é gerado em Uberaba, que é em torno de 300 toneladas/dia”, conta. 

Para o promotor, para mudar esta realidade é preciso criar regras que façam o cidadão separar o lixo. “Isto não deve ser feito só voluntariamente. Hoje a gente fica insistindo em educação ambiental, em projetos e programas, mas infelizmente o cidadão não se conscientiza”, diz. 

Valera explica ainda que hoje a cidade tem 120 mil domicílios e uma cooperativa que recebe o lixo reciclável, separa e destina de forma correta. Porém, para o promotor falta estrutura. “O que nós temos que fazer é mudar o modelo, então primeiro obriga o cidadão a separar. Em segundo, o poder público, quando licitar a coleta e a destinação final dos resíduos sólidos, tem que colocar nas licitações e contratos administrativos que a empresa tem que coletar separadamente, ela tem que coletar o que é lixo mesmo, que nós chamamos de lixo cinza, ou seja, resíduo que não se aproveita, resíduo de banheiro e outros resíduos e todo o resto, o orgânico e o reciclável tem que ser coletado em separado”, explica.

Na COOPERU (Cooperativa dos Recolhedores Autônomos de Resíduos Sólidos e Materiais Recicláveis de Uberaba) estão cadastrados hoje cerca de 70 coletores que pegam o lixo reciclável da cidade e levam para o depósito, que fica no Distrito Industrial. Por mês, são recebidas na unidade 140 toneladas de lixo reciclável, sendo papel, plástico, sucata e vidro. 

O presidente da instituição explica que além do lixo recebido, eles também fazem a coleta de forma voluntária. O serviço é feito com seis caminhões e uma caminhonete e mais de 20 bairros são contemplados. Os principais são Santa Maria, Mercês e Vila Olímpica. “O problema da cidade é que hoje não existe um programa ou plano de coleta seletiva. Este trabalho nosso é voluntário e traz gastos com a manutenção dos veículos, combustível, salário de motorista, e tudo sai do dinheiro da venda dos materiais”, comenta.

Bons exemplos

A preocupação com o destino correto do lixo também é a preocupação de um condomínio de apartamentos no Parque do Mirante, em Uberaba. O síndico do residencial, Leandro Fernandes de Oliveira, explica que a coleta seletiva começou por lá há dois anos. São separados o lixo comum, alumínio, latas, vidros e papelão.  

Ele conta que não houve resistência dos moradores para implementar este sistema, porém a adesão ainda não é grande. “A iniciativa é ótima, benéfica para o condomínio. Eu como síndico vejo que acaba reduzindo os gastos com a manutenção. Nosso local de armazenamento do lixo acaba tendo mais espaço. O óleo não vai pro esgoto, o que reduz o número de entupimento, reduzindo, consequentemente, nossa despesa. Uma empresa recolhe este óleo e, em troca, pegamos produtos de limpeza que usamos no próprio condomínio", explica.

Doação de papel feita por grupo de pais (Foto/Arquivo Monalisa de Oliveira Santos Souza)

A servidora pública Monalisa de Oliveira Santos Souza também é outro exemplo de boas medidas que contribuem para o Meio Ambiente. Ela conta que na casa dela todo o lixo é separado. “Os resíduos comuns ficam numa lixeira, material reciclado em outra”, conta. Os vidros, por exemplo, são reaproveitados na família de Monalisa. “Alguns recipientes eu uso para colocar grãos, como cereais, amendoins, é uma forma de ficar bem protegido o alimento, não dá bicho e ainda ajuda bastante”, diz.

Além destes hábitos que são rotineiros na vida da servidora pública, ela e outros pais da escola onde os filhos estudam desenvolveram uma parceria para recolher os livros usados e destinar para o local correto. “Nos grupos de WhatsApp nós conversamos com os pais, combinamos de recolher os materiais e vendemos para cooperativa que recicla todo o papel. Este dinheiro arrecadado a gente usa num projeto especial de karatê com as crianças. Com essa iniciativa já conseguimos recolher cinco toneladas de papel", complementa.

O que diz a Prefeitura?

A reportagem levou o assunto para o governo de Elisa Araújo (Solidariedade). Em nota, nossos questionamentos foram respondidos pela própria prefeita. Elisa disse que tem planos de implementar a coleta seletiva na cidade. “Nós temos a meta de, nos próximos quatro anos, atingir até 80% da cidade atendida pela coleta seletiva”, afirma. 

Sobre a possibilidade de repensar o modelo de licitação hoje para a coleta do lixo na cidade, a prefeita disse que concorda em rever esta situação. “Hoje existe um contrato sendo discutido com o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Regional, o Convale. Esse consórcio estabelece a destinação dos Resíduos Sólidos Urbanos. Contempla também a coleta seletiva, o apoio aos catadores de recicláveis, contempla, inclusive, uma capacitação para que se planejem de forma adequada, dando esse suporte e até incentivo financeiro para que eles possam se estruturar melhor. Um trabalho social. Porém, esse contrato por meio do Consórcio precisa ser revisto. Estamos discutindo alguns pontos, tecnicamente, para que a gente possa avançar sobre esse contrato que é intermunicipal”, explica.

Elisa Araújo encerrou as explicações dizendo ainda que todas as ações do governo vão ser amplamente discutidas com a comunidade. “Se for direcionamento da prefeitura efetivar esse contrato dentro desse Consórcio, ele será validado pela comunidade, levando em consideração todos os pontos que a população pautar dentro da discussão”, conclui.

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