CIDADE

Entrevista: Celular ao volante gera 50% das multas de trânsito em Uberaba

O uso de celular ou smartphone enquanto se dirige é responsável por 50% das multas aplicadas no trânsito da cidade

Marconi Lima
Publicado em 21/09/2019 às 13:22Atualizado em 18/12/2022 às 00:28
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Foto/reprodução

Pode parecer exagero para muitos a comparação, mas é certo que nos dias de hoje os aparelhos celulares ou smartphones são como a extensão do corpo. Difícil imaginar-se sem eles em qualquer momento da vida. Em casa, no trabalho, na escola, no carro, lá estão todos conectados. O uso do aparelho, que facilita – e muito – a comunicação do nosso dia a dia, sai caro para motoristas em Uberaba. O uso de celular ou smartphone enquanto se dirige, segundo levantamento da Chefia da Seção de Educação no Trânsito, da Secretaria de Defesa Social (SDS), é responsável por 50% das multas aplicadas no trânsito da cidade.

A camiseta comemorativa da Semana do Trânsito traz uma frase com alerta sobre os riscos de dirigir e usar o celular ao mesmo tempo. O chefe da Seção de Educação no Trânsito, Hélio Reis dos Santos, em entrevista ao Jornal da Manhã, ressalta que o aparelho se tornou o grande vilão do trânsito em Uberaba. O levantamento não levou em conta os acidentes causados no trânsito por conta do uso do aparelho enquanto o motorista estava na condução do seu veículo. Até o próximo dia 25 a SDS realiza a Semana Nacional do Trânsito, que este ano apresenta como mote “No trânsito, o sentido é a vida”. Este ano as ações serão concentradas em palestras. Na avaliação da SDS, trata-se de um mecanismo mais eficiente para atingir um número maior de pessoas do que as blitze educativas, realizadas em meio ao trânsito. 

Jornal da Manhã – A Secretaria de Defesa Social antecipou em um dia a abertura oficial da Semana do Trânsito. E a abertura do evento foi diferente de anos anteriores...

Hélio Reis – Nos anos anteriores, começava sempre dia 18 e encerrava-se em 25 de setembro, mas desta vez começamos no dia 17. Conseguimos trazer um projeto bacana para as crianças, que é o projeto Senninha, que mostra a importância do bom relacionamento com as pessoas. Hoje em dia estamos deixando de lado o bom-dia, o boa-tarde! As crianças aprenderam como é importante tratarmos bem uns aos outros. 

JM – No trânsito, a gentileza é fundamental...

HR – Hoje, se acontece um acidente de trânsito, as pessoas se preocupam primeiramente com o dano material. Vão olhar se o carro teve algum dano e esquecem de verificar se os envolvidos naquele acidente estão bem, se alguém se machucou. A gentileza é muito importante. As pessoas estão muito apressadas, preocupadas com o relógio, em não chegar atrasadas aos seus compromissos. Se acontece um acidente de trânsito, a pessoa tem que ficar no local por muito tempo e, às vezes, nem se preocupa com a outra pessoa envolvida, quem ela é, como ela está. 

JM – Promover palestras ao invés de blitze tem algum resultado mais positivo?

HR – O secretário [de Defesa Social, Wellington Cardoso Ramos] conversou com nossa equipe e verificamos que as palestras apresentam um resultado melhor, especialmente quando elas acontecem nas escolas e envolvem as crianças; elas multiplicam. Veja você, quando palestramos para crianças de quatro a 11 anos, é certeza que elas, depois, vão cobrar dos pais. E curioso que, nesse trabalho, muitas crianças já nos revelaram que os pais dirigem falando ao celular, ou, quando vão a algum evento, consomem bebida alcóolica e depois vão dirigir. A criança é muito verdadeira. E nas nossas orientações sempre recomendamos que não se deve usar celular enquanto dirige e nem beber e depois dirigir. Quando a criança chega em casa, ela cobra do pai. E certamente o pai fica envergonhado e, na frente do filho, não vai cometer qualquer imprudência. 

JM – A camiseta comemorativa da Semana do Trânsito traz uma frase: “Esqueça o celular enquanto dirige”. O uso do celular virou o vilão do trânsito?

HR – Tempos atrás o vilão do trânsito era a falta do uso do cinto de segurança. Isso já ficou para trás. Hoje, 50% das multas aplicadas no trânsito são provenientes do uso do celular enquanto se dirige. Com as redes sociais, o motorista acaba colocando o celular no painel. Ele adquire um suporte que ajuda a fixar o aparelho próximo ao volante e, enquanto ele dirige, chega uma mensagem pelas redes sociais, ele vai querer digitar para responder; e dirigindo, o que é pior. O celular hoje é um projetor de imagens, a pessoa acaba indo para um outro local e esquece que está dirigindo. 

JM – O suporte para o celular no painel do carro não daria mais segurança ao motorista?

HR – Não acredito. Eu acho que esse suporte não deveria existir. Esse acesso é muito mais fácil. Sei que tem profissionais, como táxis e motoristas por aplicativo, que utilizam a plataforma para localização. Mas o problema é o momento em que se está manuseando esse aparelho; o ideal é a sua utilização enquanto o veículo estiver estacionado. Olha só, muitas pessoas param no semáforo para mexer no aplicativo. É perigoso, pois o sinal a qualquer momento vai abrir, ela terá que olhar nos retrovisores externos e no interno, direção defensiva. Então, às vezes tem um carro parado à sua frente, em um semáforo, com o motorista mexendo no aplicativo. O sinal abre, o motorista não vê, o que está atrás buzina, vira uma complicação. O celular tornou-se o grande vilão do trânsito. 

JM – O uso do celular pelo motorista já virou um hábito; é tão comum quanto se dar um bom-dia, ou boa-tarde...

HR – O motorista já sai de casa com o celular colocado entre as pernas. Quando o agente de trânsito o aborda, o motorista justifica que não está utilizando e que se tocar, ele para e atende. Mas, a grande maioria não para. A pessoa atende ao celular com o carro em movimento. 

JM – Em relação à convivência dos diversos veículos no trânsito de Uberaba, como estão caminhões, caminhonetes, bicicletas, motos e carros dividindo as vias públicas da cidade?

HR – Nós estamos muito preocupados com a questão das motocicletas. Em uma moto, o para-choque é você! Mesmo com o condutor estando correto com todas as normas do trânsito, se alguém encostar na moto, ele certamente vai se machucar. E hoje os motociclistas evitam colocar alguns acessórios que eram comuns antigamente, como o mata-cachorro, que protege as pernas do condutor; muitos jovens retiram esses equipamentos de segurança por uma questão estética. Então, os equipamentos que podem ajudar na prevenção a fraturas são retirados. Eu sempre recomendo, façam uma visita ao hospital de traumas para verificação da quantidade de pessoas que são vítimas de acidentes com motos. 

JM – Qual a média de acidentes com motos em Uberaba?

HR – Temos uma média diária de oito a dez acidentes com motos em Uberaba. Temos uma preocupação especial com os motociclistas que trabalham com entregas, especialmente quem trabalha à noite, para entrega de refeições. A maioria deles – se não todos – ganha por entrega. Então, muitas vezes passam no sinal vermelho, desrespeitam sinalizações de trânsito para fazer um maior número de entregas. Mais uma vez, recomendo a visita ao hospital de traumas para que conheçam a situação de muitos acidentados com moto. 

JM – E quanto às vans, como o setor de Educação no Trânsito tem trabalhado?

HR – Com as vans temos feito um trabalho no início do ano, na volta às aulas e também na volta às aulas no meio do ano. Melhorou muito o trabalho das vans em Uberaba. Houve época em que um veículo para 12 crianças era ocupado por 20, a maioria sem cinto de segurança. Então, mães e pais, ajudem a fiscalizar! Veja se seus filhos estão com cinto de segurança! 

JM – Bom, sobre avanço de sinal vermelho, não se pode dizer que apenas os entregadores de refeição cometem esse tipo de infração. Percebe-se que é uma prática – aliás, péssima prática – de motoristas de outros veículos também...

HR – Muita gente reclama que Uberaba tem muito semáforo. A questão é: não havia muitos espaços para os pedestres no trânsito de Uberaba. Então, percebemos que há uma impaciência do motorista porque o semáforo está fechado, mas não há pedestres passando, e então há o avanço com o sinal no vermelho. 

JM – Muitos motoristas argumentam que durante a noite há o problema da insegurança. Ficar parado em determinados locais provoca o risco de assalto. Nesses casos, avançar o sinal seria permitido?

HR – Em alguns pontos da cidade, a partir de determinados horários, há o semáforo no sinal intermitente. A dica que damos é, ao passar no sinal verde e o próximo está no vermelho, reduza a velocidade para não ter que parar. Então, controle a velocidade até que o próximo semáforo abra. 

JM - A cidade está há pelo menos dois anos sem os radares; mas, houve anúncio de instalação dos equipamentos. Em que eles poderão ajudar no controle do trânsito?

HR – Todo equipamento que ajuda no monitoramento de velocidade ou avanço de sinal, causando a redução dos acidentes e de mortes no trânsito, é muito bem-vindo.

JM – O senhor falou sobre o uso de cinto de segurança nas vans de transporte de passageiros. Mas, nos ônibus também existe essa obrigação? E os passageiros que vão em pé, como ficam?

HR – Existem algumas normas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) com as quais não concordo. Eu não concordo com a permissão de passageiros em pé nos ônibus de transporte coletivo. É importante o uso do cinto de segurança. Nas nossas palestras, vamos mostrar às pessoas a importância do uso do cinto de segurança. 

JM – Com relação às crianças no carro, quais os equipamentos a serem utilizados?

HR – Crianças de zero a um ano têm que utilizar o bebê-conforto no banco de trás. A criança vai deitada, com a cadeira virada de costas, pois, se houver algum impacto, preserva-se a segurança da criança. Dos quatro aos sete anos tem a cadeirinha. E no banco da frente somente após os dez anos. 

JM – Os táxis e carros por aplicativo precisam da cadeirinha?

HR – Não há essa obrigatoriedade. Mas seria interessante que esses motoristas sempre tivessem em seus porta-malas algum dispositivo, como a cadeirinha ou um assento de elevação. Nunca se sabe quando vai transportar um bebê ou uma criança. 

JM – Em viagem, quando alguém alugar um carro, por exemplo, a locadora deve fornecer o dispositivo para bebês ou crianças?

HR- Não há essa obrigatoriedade. É importante que os pais levem na bagagem o dispositivo de segurança obrigatório para o transporte do bebê ou da criança. 

JM – E quanto à Lei Seca, como está a fiscalização em Uberaba?

HR – Sempre fazemos blitze educativas. E nesses trabalhos abordamos não apenas a Lei Seca, como também o uso obrigatório do cinto de segurança, uso do celular com o carro em movimento. Mas, parece-me que chegaram equipamentos novos tanto para a Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar Rodoviária quanto para a Polícia Militar. Há equipamentos hoje em que a pessoa não precisa mais soprar, como no famoso bafômetro, já a alguma distância o equipamento detecta se o motorista fez ou não uso de bebida alcóolica. 

JM – Aliás, álcool e direção também não combinam...

HR – Por isso orientamos: sempre que for sair para beber, dê preferência em oferecer a direção a quem não consumir bebida alcóolica, ou então vá de táxi ou de transporte por aplicativo.

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