Cultivo, cuidado e pioneirismo são palavras que descrevem as mães e filhas do agro. Como uma árvore ramificada e longínqua, as mulheres da Fazu (Faculdades Associadas de Uberaba) crescem e ganham força, geração após geração. Neste Dia das Mães, a reportagem separou algumas histórias que estão aterradas no amor, na união e no desenvolvimento sustentável.
Frutos de macadâmia
Nos anos 90, a então aluna de Agronomia, Cecília Dias, plantou uma árvore de macadâmia no campus da Fazu, próximo ao prédio administrativo. A irmã, Luciana Dias, também foi aluna Fazu, da Zootecnia e, assim como Cecília, compartilhava o amor por colher bons frutos.
Em 2019, Cecília retornou ao campus com sua filha Lorena Dias Silveira, para que a jovem prestasse o vestibular. Na ocasião, mãe e filha tiveram a oportunidade de rememorar essa história debaixo da sombra da macadâmia. “Eu gostava muito do campus, das salas, do professor de Botânica e Entomologia. Adorava a Fazu, tudo, uma faculdade nova, plana”, elogia Cecília.
Lorena, que se formou em 2024, reforça como foi impactada por sua mãe, tia e também pelo avô. “Meu interesse pelo curso surgiu desde que meu avô era vivo, ele era produtor rural, sempre mexeu com isso. Minha mãe e minha tia sempre trabalharam com ele, então cresci nesse meio e sempre soube que era isso que eu queria fazer”, conta ela, com um sorriso no rosto. O avô, Paulo Sérgio Carvalho Dias, foi um dos pioneiros do cultivo da macadâmia no Brasil.
“Minha mãe é uma pessoa que me inspira muito. Depois de uns 30 anos de formada, ela começou outra faculdade e está se formando em Veterinária. É uma pessoa muito forte, sempre dedicada, que me ajudou na faculdade, ela até me mostrava os cadernos dela do passado”, narra Lorena.
Uma história com três mulheres unidas pelo parentesco, pelo agro e por uma trajetória tão duradoura quanto a macadâmia. Também conhecida como noz-de-macadâmia, a árvore produz nozes saborosas, de alto valor nutricional, e que fazem parte do negócio da família. Segundo Lorena, sua tia Luciana hoje toma frente das plantações de macadâmia. Mas o apreço pela noz também faz parte da jornada dela, que escreveu o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre o tema, intitulado “Estudo de Caso: Fenotipagem Digital na Cultura da Macadâmia”.
E a macadâmia segue dando frutos. Grávida de sete meses, Lorena já planeja os aprendizados que irá passar adiante. “Um ensinamento que eu passaria para os meus filhos é até algo que ouvi nos meus últimos dias na Fazu, durante uma aula do professor Alex. Ele passou uma mensagem para a gente de deixar a mediocridade de lado, ou seja, não ser uma pessoa medíocre, não fazer as coisas pela metade, fazer tudo de boa vontade, indo até o fim, com clareza e excelência. Então é um ensinamento que eu passaria para os meus filhos”, finaliza.
Árvore enraizada
Em 1979, Icleusa Ramalho se formou na primeira turma de Zootecnia da Fazu. Uma semente plantada que se enraizou, deu flores e frutos que são polinizados diariamente. Hoje, em 2025, Thaís Ramalho Bean, filha de Icleusa, é professora da Fazu, no curso de Agronomia, onde colabora com a formação técnica de novos agrônomos. Com uma paixão pelo agro que perpassa décadas, Thaís conta que a escolha profissional foi diretamente influenciada pela mãe. Segundo a professora, o interesse pela Agronomia surgiu de forma natural, inspirado pelo espírito de liberdade de Icleusa.
“Cresci vendo o exemplo de uma mulher pioneira e corajosa, que escolheu um curso novo e predominantemente masculino — na época, apenas três mulheres faziam parte da turma dela. Isso teve um impacto profundo na minha formação. Em casa, nunca ouvi que determinada carreira era ‘para homem’ ou ‘para mulher’. Esse ambiente de liberdade e incentivo me deu o suporte necessário para escolher com confiança o caminho que realmente fazia sentido para mim”, relembra Thaís.
A professora explica ainda que a Fazu representa para ela um lugar de acolhimento, onde consegue dar continuidade aos ensinamentos de sua mãe. “Ela sempre me educou com base no respeito à natureza e aos animais. Desde pequena, ela me deu liberdade para conviver com todos os bichos que eu quisesse — mas também me ensinou que cuidar deles era minha responsabilidade. Esse aprendizado me marcou profundamente.”
Hoje, Thaís também é mãe e passa o aprendizado para seus dois filhos, Miguel e Gregory. A profissional conta que os pequenos convivem com a Fazu e com o agro desde cedo. “Não é à toa que eles adoram passear na Fazenda Escola, ver os animais, as plantações e aproveitar os espaços ao ar livre. Sempre priorizei esse contato com a natureza, porque acredito que é nesse ambiente que se formam os valores que quero transmitir”, destaca.
“Como mãe, quero que meus filhos cresçam com essa visão — de responsabilidade, cuidado e gratidão pelo que a terra oferece. E mais do que isso: além de educar meus filhos com esses princípios, tenho o desejo de deixar uma contribuição para o mundo. Quero desenvolver algo que seja sustentável e que ajude a aumentar a produção com responsabilidade, pensando no futuro das próximas gerações”, conclui a professora, que é pós-doutorada em Fitopatologia e Virologia.