ARTICULISTAS

Chegar a Deus

Lá pelos idos dos anos setenta, eu cursava Letras

Terezinha Hueb de Menezes
Publicado em 24/06/2012 às 12:22Atualizado em 19/12/2022 às 18:54
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Lá pelos idos dos anos setenta, eu cursava Letras na antiga Fista (Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino). Uma das matérias do final do curso era Filosofia, ministrada pelo Prof. Paulo Rodrigues, famoso pela inteligência e facilidade em manifestar suas ideias.

Lá pelo final do curso, a turma foi dividida em grupos, para apresentação de temas filosóficos, à escolha do professor. Para nossa equipe, ficou uma abordagem sobre a filosofia de Sartre (O Surto do Ser Humano), e eu encarregada de representar o grupo na apresentação do trabalho.

Aprofundar na teoria existencialista de Sartre causou-me um incômodo estranhamento. Muito do que ele apregoava era válido e verdadeir como negar que o homem é responsável, através da liberdade, por suas escolhas? Ou situações de angústia e de absurdo que rondam sempre a vida do ser humano? Mas via, com olhar torto, a teoria de que a existência precede a essência, num afastamento da ideia de Deus o que, evidentemente, afasta, também, a possibilidade da existência de outra vida.

Não me contentei em abordar apenas a teoria do renomado filósof ao final da apresentação, fiz um breve relato que lera antes: determinado monarca, prevendo que iria morrer em breve, já muito doente, pede aos súditos que escrevam a história da humanidade, para que dela tomasse conhecimento. Foram os súditos e a escreveram em vários volumes. O rei lhes pede que a abreviem, já que o tempo é curto. Voltam os súditos com um volume, depois com alguns capítulos, poucas páginas, até que, já no fim, o monarca lhes pede que contem a história dos homens em poucas palavras. E assim foi contada: “O homem nasce, vive, sofre e morre.”

Aproveitei a história para posicionar-me, alegando que a despeito da inteligência de Sartre e das suas inúmeras teorias aceitáveis sobre o estar aí do homem no mundo, não poderíamos, jamais, afastar-nos da certeza de existência de Deus e da certeza de que, além desta vida terrena, outra nos espera. E que seria inadmissível aceitar que somos apenas matéria, extinguindo-se, assim, o ser com a morte.

Nossa turma era formada por pessoas mais velhas, como eu – já casada, com filhos, trabalhando na educação –, e jovens iniciantes na vida educacional. Entre eles, parece-me que recém-saído do seminário, estava o grande artista, Hélio Ademir Siqueira. Pedi-lhe que, ao final da apresentação, cantasse Oração de um jovem triste, de Antônio Marcos, muito comum na época.

Com a voz maravilhosa que Deus lhe deu, a emoção de Hélio tomou conta do espaço e dos assistentes, assim encerrando a cançã “Se jamais acreditei, perdoa-me, Senhor, pois hoje Te encontrei.”

Completava-se, pois, o recado.

Terminada a apresentação, o querido Prof. Paulo aproximou-se do grupo, tecendo considerações sobre o trabalho, culminando com a seguinte declaraçã ”Alguns chegam mais facilmente a Deus.”

Até hoje, tal fala se me apresenta como incógnita.

E até hoje, também, saída da profundidade de minha memória, vislumbro todo o episódio daquele trabalho, ecoando-me, ainda, aos ouvidos, a emocionada voz do quase menino, Hélio Siqueira, iniciando o cant “Eu tanto ouvia falar em Ti, por isso hoje estou aqui.”

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro [email protected]

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