Hoje, come-se de tudo, desde o escorpião frito até as cobras ensopadas
Hoje, come-se de tudo, desde o escorpião frito até as cobras ensopadas. Certa vez, vi ao meu lado um filipino, bem vestido, devorando um prato estranho. Pedi licença e dei uma olhada no cardápio. Pareceu-me que, por estar escrito em inglês, camuflava a estranheza do petisc Rattle Snake Meat (Carne de cascavel).
Conforme os tempos e as regiões devoram-se as coisas mais estranhas que se pode imaginar. Os esquimós comem os vermes que eles criam carinhosamente na banha das focas. Ainda bem que o costume não ultrapassou as fronteiras dos iglus.
As revistas de culinária tem publicado, constantemente, que a alimentação neste terceiro milênio será totalmente modificada. Haverá uma aliança estreita entre a ciência, a tecnologia e a arte culinária. A terra não terá recursos para sustentar 10 bilhões de pessoas. A estrutura interna dos alimentos será alterada. Os alimentos serão portadores de novos genes de vacinas, antibióticos e propriedades preventivas e curativas. Os novos alimentos não apenas matarão a fome. Terão uma função curativa. Nos nossos supermercados haverá gôndolas específicas para cada mal que nos aflige. Haverá laranjas para curar diabetes, mamão para os males do fígado, mangas para regular o intestino, cebolas para gripes, alho para limpar as carótidas, tomates para reumatismo e assim por diante. Será a união do útil ao agradável.
Diante de tanto avanço tecnológico, fica a pergunta: será que isso vai dar certo? Não será arriscado alterar a estrutura íntima das células? Não será um atrevimento de consequências imprevisíveis intrometer-se no condicionamento genético dos animais e das plantas, naquilo que a Natureza levou milhões de anos para integrar em perfeita harmonia? O que chamamos de evolução não é outra coisa senão a criação de Deus através de transformções milenares. Não seria um atrevimento nosso alterar a sabedoria do Criador do Universo?
Para terminar fico pensando no futuro, nas Ceias de Natal e nas festanças do Ano Novo. Os convidados irão comer o quê? Não estarei lá para matar minha curiosidade, mas posso adivinhar o teor moderníssimo dos convites: “Na próxima passagem do ano, você é meu convidado de honra. Comprei um peru transgênico, ótimo para dores de coluna. Como sobremesa umas castanhas com propriedades preventivas contra gripe, resfriados e refluxo. Conto com você”.
Se fosse vivo, talvez aceitasse o convite, mas não ficaria tranquilo. Será que não ando muito retrógrado?
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro