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A montanha perde-se distante. Distante, o monge medita, cenário à sua volta lembrando a Idade Média

Terezinha Hueb de Menezes
thuebmenezes@hotmail.com
Publicado em 26/02/2012 às 13:54Atualizado em 17/12/2022 às 08:37
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A montanha perde-se distante. Distante, o monge medita, cenário à sua volta lembrando a Idade Média.

Silêncio. A voz do silêncio assoberbando-lhe a alma. A bulha do mundo o assusta. Sente-se afastando de Deus.

Em sua cabeça, Deus habita os grandes silêncios, os imensos silêncios. Apenas neles os homens O encontrariam.

Seria isso a felicidade? Questiona a jornada do homem na Terra: a busca da felicidade. Cada qual à sua maneira. Lembra-se da axiologia. Da escala de valores. O que era bom para um podia ser detestável para outro.

Pensa na diversidade das tendências ou propensões humanas. Uns agarrados ao dinheiro, vendo, no simples tilintar das moedas ou no dólar verdolengo, o objetivo final para tudo. Outros, aguçando ouvidos, estimulando a fala, conchavando contatos à procura do poder. Outros, ainda, tentando desvendar, nos livros, suas razões e as razões da humanidade. Outros... e outros... e outros. Mas a busca sempre, como fim último da ambição humana. Ou de sua ausência.

E ele? O que busca? Por vezes nem mesmo sabe se busca. Tem certeza, porém, de que foge: movimento antagônico à procura. Como os primeiros modernistas, não sabe bem o que quer; mas sabe o que não quer. E não quer a desenfreada corrida por objetivos que não são os seus; e não aceita que os seres se trucidem física ou moralmente em defesas nem sempre defensáveis, mas movidas por interesses próprios; e não entende que um curto espaço de tempo - a vida - seja responsável por tantos desencontros, principalmente com Aquele que deveria ser o fim de todas as coisas.

O silêncio é seu caminho. O canal para descobertas dentro de si e além de si. Mas percebe-se fora do silêncio. Estaria sua voz interior suplantando a ausência de vozes lá fora? Seriam seus conflitos superiores aos externos? Talvez mais barulhentos que as buzinas dos carros, os apitos das fábricas, o vai-vem das ruas?

Precisa encontrar Deus e sua paz. Deus e sua certeza. Deus e seu perdão. Deus e sua tranquilidade. Deus e as respostas para os equívocos que o atormentam.

Onde as respostas? O silêncio as traria? A meditação as acordaria? A solidão seria o encontro, o grande encontro?

Sente-se envolto em névoas. O isolamento comprometendo já o raciocínio. As dúvidas, antes mais claras, turvando-se na turbulência do silêncio tão ansiado.

Os caminhos se cruzam: enfrentar o mundo dos homens e nele procurar Deus e seus preceitos, ou abandonar o mundo dos homens e mergulhar em seu próprio mundo.

Enquanto o questionamento abre frinchas doridas na alma, olha o horizonte distante, delineando limites, escuta a própria voz, de início um filete, agora em borbotões, buscando eco nas montanhas que o cercam...

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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