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Brasil olímpico

O Brasil acaba de ganhar medalha de ouro na disputa com países poderosos para a realização das Olimpíadas de 2016. Um feito e tanto, pois será o primeiro país da América do Sul

Mário Salvador
Publicado em 06/10/2009 às 20:57Atualizado em 20/12/2022 às 10:16
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O Brasil acaba de ganhar medalha de ouro na disputa com países poderosos para a realização das Olimpíadas de 2016. Um feito e tanto, pois será o primeiro país da América do Sul a promover o evento. Aplausos para a comissão organizadora, que soube aproveitar as derrotas em disputas anteriores para aprimorar o projeto apresentado ao Comitê Olímpico Internacional, conseguindo sobrepujar fortes concorrentes: Tóquio, Chicago e Madri.

A numerosa comitiva brasileira contou com a participação de esportistas, escritores e autoridades, com destaque para o presidente Lula, que fez um discurso emocionante, bastante aplaudido, e não conteve as lágrimas quando foi anunciado o nome do Rio de Janeiro como cidade que deve promover as olimpíadas de 2016.

Em meio à euforia geral, levantaram-se vozes cautelosas e serenas, mostrando a maneira como o brasileiro está acostumado a levar adiante projetos que poderiam dignificar um povo, mas acaba realçando uma péssima conduta em um processo de tão grande envergadura, como uma olimpíada.

De maneira a não deixar dúvidas quanto à forma irresponsável de agir dos brasileiros quando há envolvimento de dinheiro, a imprensa voltou a registrar o que aconteceu nos Jogos Pan-Americanos de 2007. Em 2002, ano em que o Rio de Janeiro foi a cidade escolhida para sediar o evento, os gastos com os jogos foram orçados em R$ 410 milhões e terminaram em R$ 3,7 bilhões. Como exemplo de erro de cálculo, cita-se o estádio João Havelange, orçado em R$ 74 milhões, quando anunciado o início das obras, e que apresentou um custo final de R$ 380 milhões, ou quase cinco estádios. Os furos orçamentários e os superfaturamentos foram levantados pelo Tribunal de Contas da União e o processo ainda não teve sua conclusão.

A ministra Dilma, também emocionada com a escolha do Brasil para sediar os jogos olímpicos, disse que irá controlar os gastos. Vamos torcer para que ela possa cumprir bem a sua missão de fiscalizar os R$ 25,9 bilhões destinados ao evento, em orçamento inicial. Se nos Jogos Pan-Americanos R$ 410 milhões viraram R$ 3,7 bilhões, a quanto poderíamos chegar nos jogos olímpicos?

Consideremos que o Brasil saiu fortalecido na disputa com países poderosos, que o Rio de Janeiro é a cidade mais feliz do mundo e que, de qualquer forma, poderá lucrar com os jogos.

Pensemos também que já é hora de formarmos atletas capazes de conquistarem o cobiçado ouro nas provas, além dos que já demonstraram capacidade para tal. Afinal, o país anfitrião gasta horrores, mas pode usufruir de incontáveis e incontestáveis regalias em diversos setores, dentre os quais, o do turismo.

Entretanto é preciso cuidado. Afinal, algumas cidades, como Barcelona, na Espanha, tiveram lucros vultosos com os jogos olímpicos que patrocinaram, enquanto outras amargaram um prejuízo enorme, como Montreal, no Canadá, que ficou dez anos pagando dívidas.

Além das medalhas de ouro que podemos conquistar nos Jogos Olímpicos de 2016, é preciso reunir esforços para que mereçamos a honrosa medalha de ouro pela impecável organização dos jogos e pela correta aplicação dos recursos públicos destinados ao evento.

Já penso na abertura dos Jogos Olímpicos de 20l6, com a grandiosa apresentação de detalhes característicos do nosso carnaval, para bilhões de pessoas pelo mundo afora. A abertura dos jogos no Brasil poderá ofuscar todas as já realizadas nas Olimpíadas. Só esperamos que não precise ofuscar os desmandos e desvios praticados para a realização do magno evento.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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