A família se reúne, ao redor da mesa, para o jantar
A família se reúne, ao redor da mesa, para o jantar. Mãe, pai, três filhos menores.
O filho do meio, quatro anos, pega o copo de suco e, em vez de bebê-lo, brinca e ri, borbulhando o líquido.
O pai chama-lhe a atençã é feio tal comportamento, mais ainda durante a refeição. Pede-lhe que pare e jante normalmente, como os outros.
A criança não obedece. Continua a brincadeira, rindo ainda mais, e ainda mais provocando a contrariedade do pai. A mãe e os irmãos observam atentos, de vez em quando, estimulando o menino a que atenda ao pedido. O pai torna a advertir: se continuasse, iria para a sala “pensar” sobre sua atitude e não poderia mais tomar o suco.
De nada adianta a nova advertência. Como que a dasafiar a autoridade paterna, a criança persiste na brincadeira.
O pai não vacila: toma-lhe o copo e o conduz à sala. A criança chora. E chora. E chora. E quer chamar a atenção da casa toda.
O menorzinho, pouco menos de três anos, inquieta-se. Olhos redondos e doces, olha a mãe, olha a irmã, olha o pai.
O choro do irmão, tão próximo nos brinquedos, o incomoda. Sente pena. É um castigo. Sofre também.
Dirige-se ao pai: “Papai, por que você não faz uma coisa? Vai lá e conversa com o Marcelo. Fala que se ele parar de chorar e prometer que não faz mais isso você devolve o suco pra ele. Conversa com ele. Aposto que ele para.”
O pai parece não ouvir. O garotinho insiste: “Vai lá, papai. Conversa com ele.”
Já comovido com o interminável choro do filho – que pai e mãe, no fundo, sentem sempre remorsos quando de atitudes mais severas – lá vai o pai, a conselho do caçulinha: conversa com o garoto, explica-lhe a feiura do comportamento, cobra-lhe atitude e, depois de muito ouvir e falar, o menino aceita o pact para de chorar, recebe de volta o suco, volta à mesa de refeições. O menorzinho vibra de contentamento. Nada fala. Apenas observa a alegre reação do irmão, da irmã e da mãe, que procura não interferir na atitude do marido, menos ainda na iniciativa do filho menor.
Termina a refeição. O pai dirige-se ao quarto, à procura de algo. O caçula o acompanha. Aproxima-se, agarra-o pelas pernas: “Não te falei, papai, que era só conversar com o Marcelo que ia resolver? Era só conversar. Ele parou de brincar com o copo e parou de chorar. Não te falei?”
O pai emociona-se. Percebe que, muitas vezes, a mais sábia pedagogia não se encontra na idade, na experiência de vida, mas nas atitudes oriundas do coraçã o amor é o grande centro de orientações educacionais, pois não permite ao ser humano agir por impulsos muitas vezes impensados. Por isso o diálogo é atitude amorosa: estabelece reciprocidade, possibilita permuta de ideias, permite o encontro dos verdadeiros caminhos para soluções educacionais válidas.
Essa foi a lição do meu neto Renato a todos nós. Ele, cuja vivacidade, aos três anos, quando inquirido pelo ti “Você é feio assim mesmo ou chupou limão?” fez com que respondesse em um segund “Eu chupei limão e você é feio assim mesmo.”
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro thuebmenezes@hotmail.com