Foi convocada para ir ao fórum para levar sua criança ainda de tenra idade, que seria ouvida por uma psicóloga
Foi convocada para ir ao fórum para levar sua criança ainda de tenra idade, que seria ouvida por uma psicóloga numa investigação sobre ter sido vítima de pedofilia. A criança foi deixada no setor psicossocial da Justiça, aos cuidados de profissionais habilitados. A mãe seguiu para a sala de audiência. Dali assistiria, pela tela do computador, a entrevista da filha sobre os fatos. Iniciados os procedimentos podia ver as imagens e ouvir a conversa. Com muita habilidade, a psicóloga destacada dialogava com a criança seguindo um protocolo desenvolvido com critério para se obter as respostas sem pressões, sem coações, sem indução. Cuidadosamente ia abordando os pontos visados pelas partes, ante a reservada exposição do juiz. A mãe vidrou seus olhos na tela. Conforme ia ouvindo o relato da inocente e indefesa criança, considerada vulnerável pela lei, ia transformando a fisionomia. A criança esclarecia como aconteciam os abusos sexuais que sofreu por muitas vezes de um convivente de seu lar. O semblante da mãe ia se transformando conforme prosseguia a narrativa. Ao ouvir sobre os toques físicos lascivos que vitimaram a criança, ela engolia seco, os lábios da aflita mãe tremiam, as lágrimas silenciosas corriam em sua face sentindo ferida sua própria alma. Sentia nojo! E do seu olhar se expunha um sentimento de impotência misturado com o remorso por ter se distraído da guarda mais plena da infante. Emergia uma revolta contra si própria pela tolice de ter confiado demais no sagaz agente. Embora entendesse que o agressor foi dissimulado demais ao ponto de se beneficiar de sua boa fé, não se perdoava pela distração. Também a horrorizava pensar nas marcas traumáticas que os atos poderiam deixar para sempre na inocente criança, em ponto tão delicado e relevante de seu desenvolvimento vital. O juiz silenciosamente observava a tudo para tentar dimensionar o tamanho do estrago, em casos que têm se reiterado de forma assinalada contra meninos e meninas indistintamente. O pior ficava diante da constatação de que esses casos, já com volume de realce, dentre todos são dos poucos que chegam à tona para investigação e julgamento. - Portanto, o sinal de alerta há de ser aceso. Não que as relações domésticas familiares sejam encaminhadas ao campo da desconfiança doentia e desmedida, ruim ao convívio, mas que toda a atenção seja destinada a esse risco, o da prática da pedofilia. Certo de que o diabo nunca se apresenta como tal. A pedofilia tem infiltrado muito, em alcance muito maior que a sociedade tenha noção, o que inibe a devida prevenção. Atenção, portanto, para não se ter que amargar para sempre a dor do remorso implacável como do coração dessa mãe