A história econômica do Brasil teve, desde que Cabral aqui aportou com suas caravelas, naquele mês de abril de 1500, muitos ciclos e muitas febres. Os povos europeus, principalmente, sempre aqui estiveram levando nossas riquezas nestes últimos cinco séculos. Começaram com o pau-brasil, passaram pelo ouro, pelos diamantes e ultimamente se especializaram em levar nossos craques do futebol. Somente neste ano que está findando foram mais de mil, um verdadeiro recorde. Mas, como aconteceu com aquela madeira preciosa, nossas matas acabaram. As minas do rico metal e das pedras preciosas se esvaíram e agora o manancial dos craques de futebol está secando. Os “garimpeiros de craques” que se embrenham pelos nossos “sertões”, como aqueles que se aventuravam em busca de nossas preciosidades minerais, já não “bamburram” mais como até tempos atrás. As nossas grandes pedras valiosas não estão mais sendo encontradas facilmente. As minas estão secando. Deixando de lado as comparações figuradas e sendo mais explícito neste comentário, quero dizer que os craques do futebol brasileiros estão desaparecendo. Aquela avalanche de bons jogadores que era produzida pelos nossos campinhos, a maioria de terra, da metade do século passado em diante, já não acontece. Os campinhos de terra foram destruídos pela exploração imobiliária e substituídos por gramados de escolinhas e quadras de cimento, mas os resultados estão cada vez piores. O futebol que 50 anos atrás era a grande diversão dos meninos brasileiros passou a ser profissão. Ou pelo menos esperança de profissão. Aqueles que corriam atrás de uma bola por puro prazer agora o fazem com objetivo totalmente diferente. Querem conseguir o milagre de em pouco tempo promover suas famílias das mais baixas camadas da sociedade brasileira à nossa elite econômica e social. Isto porque a quase totalidade daqueles garotos que correm hoje atrás de uma bola é da faixa mais humilde de nossa população. Raríssimas são as exceções. Os garotos que hoje se iniciam no futebol e mostram alguma qualidade técnica não sonham apenas em ser um bom jogador de sua cidade, de seu clube e em vestir a gloriosa camisa da Seleção Brasileira. Querem mesmo é ir para o rico futebol europeu, ou asiático. Tornarem-se de uma hora para outra milionários. Tirarem suas famílias do anonimato e da miséria, possuírem carrões de luxo e até castelos e desposarem modelos e atrizes famosas. Porém, posso afirmar que as minas estão secando. Embora o futebol brasileiro continue exportando atletas em profusão, principalmente promessas de atletas, quantos craques de ponta foram descobertos por aqui ultimamente? Depois de Zico, Sócrates, Romário, Rivaldo, Ronaldo Fenômeno, Ronaldo Gaúcho e por último Kaká, para citar apenas os tops, quem está pintando no futebol do Velho Continente como capaz de um dia ser eleito o melhor do mundo pelo futebol? Talvez o menino Pato e olha lá. Ele ainda não pode ser incluído no rol dos “fora de série” produzidos pelo futebol brasileiro. A nossa seleção, outrora povoada de jogadores de primeira grandeza, hoje se transformou em um time de desconhecidos que ali chegam pelos mais diferentes motivos, menos os de serem considerados craques do esporte que ainda é, e não se sabe até quando, o número 1 do povo brasileiro. CADÊ AS REVELAÇÕES? Os grandes clubes brasileiros mandaram a campo verdadeiros exércitos de caça-talentos que em troca de presentinhos ou algum reais tentam identificar um novo fenômeno até mesmo nos berçários dos hospitais. Isto tem dado resultado? Parece que não. O São Paulo, um dos maiores investidores nas categorias de base e formação de atletas, foi campeão brasileiro de 2008 usando quantos craques formados nas suas escolinhas e centros de treinamento? Agora está se reforçando para as competições de 2009 com meninos vindos das divisões inferiores que treinam na cidade de Cotia, onde investiu milhões de reais em estrutura para lapidar grandes promessas vindas do interior? Não. Está buscando velhos conhecidos em concorrentes que não conseguem manter aqueles que se destacaram em suas equipes na temporada que findou. Investindo tanto nas categorias de base como investe o melhor e mais bem organizado clube do futebol brasileiro precisaria ir buscar no Fluminense reforços com a qualidade de Washington e Arouca? Isto só acontece porque a cada dia que passa encontrar um bom jogador no “sertão” do futebol brasileiro está mais difícil. Bonzinhos até podem se encontrados e retirados prematuramente de seus berçários, que são os pequenos clubes do interior. Agora, encontrar craque mesmo está cada vez mais difícil. Diria até mesmo se tornando impossível. A MINA UBERABENSE Uberaba já foi uma grande mina no futebol brasileiro. Se não conseguiu produzir um top de linha tipo exportação, pelo menos no final do século passado revelou vários atletas medianos que conseguiram vestir camisas de grandes clubes brasileiros. Embora nossos “professores” de escolinhas e olheiros-empresários tenham mandado centenas de garotos para fora, quais já conseguiram se firmar? Depois de Rodrigo Mendes, que há mais de uma década deixou as divisões de base para ir para o Flamengo, qual outro uberabense que brilhou em um grande clube? Qual foi o jogador uberabense que vimos no último Campeonato Brasileiro vestindo a camisa de um grande clube? Sei, reconheço e torço pelas potencialidades dos garotos Zé Eduardo, que está no Cruzeiro, e Patrick, do São Paulo, mas eles ainda são apenas boas promessas que espero se tornem grandes estrelas. Na verdade, na verdade, o último jogador de profissional que o futebol de Uberaba revelou foi o esforçado Balduíno, que tenta sobreviver no meio da Legião Estrangeira que se tornou o Uberaba Sport Club. Um bom réveillon a todos. Que o ano de 2009 possa ser muito bom para todos nós e que o nosso esporte volte a nos dar grandes alegrias. FELIZ 2009!