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As estrelas e nós

Vejo uma estrela no céu. Brilhante. Luminosa, no pisca-pisca incansável

Terezinha Hueb de Menezes
thuebmenezes@hotmail.com
Publicado em 16/02/2014 às 12:18Atualizado em 19/12/2022 às 08:59
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Vejo uma estrela no céu. Brilhante. Luminosa, no pisca-pisca incansável, parecendo querer chamar a atenção de alguém na terra.

Dizem que as estrelas morrem, mas sua luz permanece, até percorrer a imensidão dos anos-luz em direção à Terra.

O fenômeno é instigante. Como pode um corpo que não se vê continuar emitindo luz? “Vi uma estrela tão alta, / Vi uma estrela tão fria, / Vi uma estrela luzindo / Na minha vida vazia. (...) Por que da sua distância / Para a minha companhia / Não baixava aquela estrela? / Por que tão alto luzia?” disse o  poeta Manuel Bandeira.

Onde o vazio? Do corpo estelar desaparecido ou da alma humana que, vendo a luz, a ela não corresponde?

Onde o vazio ou a amplitude? Seria o corpo inerte em sua existência, querendo abarcar aquela luminosidade para preencher o vácuo de seu coração, tentando retornar ao estado em que ele se plenificava de alegria luminosa?

Instigante ser humano que, muitas vezes, se deixa esvaziar no temor dos enfrentamentos que a vida impõe a cada um, na comodidade de ignorar as luzes que surgem ao seu redor, temendo retomadas e lutas.

Não podemos rejeitar nem mesmo a luminosidade que, como diz o poeta, parece tão fria, tão distante. De repente, a face ansiosa teima em emitir luz, talvez nem mesmo tendo certeza de sua intenção, mas em contato com o outro que a aceite, claridades se fundem, fazendo vivificar existências com anseios iguais: da aceitação, da compreensão, da amizade, do zelo, do cuidado, da fraternidade.

Muitas vezes, as chamas do amor divino – jamais imperecíveis – se postam à disposição do ser humano, aguardando, de longe, como a estrela aparentemente fria, a aceitação de sua luminosidade. E nós, em nossa constante soberba, as ignoramos, como se não nos fizessem falta, como se delas não precisássemos. Mas elas continuam lá, tremeluzendo, aguardando o chamado, implorando a abertura do coração para que possam aquecê-lo.

Também entre nós, tantas vezes, a oferenda de luz, em forma de palavras, de gestos, de procuras, é ignorada, na impressão individualista dos que se julgam autossuficientes: eles se bastam a si mesmos.

Triste ilusão. Sem Deus, na minha ótica, não somos nada. Sem os irmãos, também na minha ótica, não somos nada. Como em uma constelação, a imbricação de luzes que se entremeiam promove não apenas a luminosidade particular, mas de todos os elementos que a compõem. (*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro mailtthuebmenezes@hotmail.com

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