ARTICULISTAS

Percepção do cotidiano: sob o olhar de Van Gogh

Vania Fonseca
Publicado em 04/06/2025 às 18:10Atualizado em 04/06/2025 às 19:16
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O ser humano, ao adquirir conhecimentos, impulsos vindos do meio externo ganham a mente, que se abre a pensamentos que geram sentimentos, emoções e sensações, ou são armazenados na memória e acessados, rotineiramente, pela consciência ou guardados segundo Freud, não intencionalmente, no inconsciente. Do recém-nascido ao adulto, o sujeito se distancia de si mesmo à medida que sofre as interferências do meio ambiente como afirma Lev S. Vygotsky pela teoria sociointeracionista (“A formação social da mente”. São Paulo: Martins Fontes, 4ª ed., 1991.). Assim, vivemos, mostramos através de nosso corpo o que, realmente, somos, ou carregamos sombras do que não percebemos existir em nós!

Ao longo da evolução humana, vivemos em sociedades que se primam pelo reconhecimento ao que nos aparenta ser e a Arte é campo que permite o extravazamento dessas dimensões ocultas que jazem no indivíduo como as emoções frente ao belo, ao bom, ao sagrado, à racionalidade complexa e, também, retratam as tragédias da violência e da loucura.

Pelas pinceladas de sua mão, o holandês Vincent Willem Van Gogh (1853 – 1890) retratou a si mesmo, tornou-se imortal aos olhos encantados, porém, reais da Arte. De sua família carregou a dimensão religiosa para suas obras, foi sustentado por seu irmão, que lhe rendeu suas famosas “Cartas a Theo” (1997); em Paris foi pintor. Sensível, porém difícil no trato consigo mesmo e com a sociedade; vítima da depressão, da solidão e da instabilidade mental; foi considerado louco, fracassado e não obteve reconhecimento em vida.

No estudo de “Cultura e Subjetividade” – Componente Curricular do Curso de Psicologia da Uniube, o filósofo –, Professor Doutor Thiago Reis dos Santos informa que Van Gogh, fruto do pós-impressionismo, “reflete a perda de sentido da vida – a percepção do vazio existencial, a angústia advinda pelo sentimento de nadificação, pois não se conhece a causa do ponto central, o que traz náusea e presença da morte que é irrepresentável”.

De acordo com Santos (2025), em suas pinturas a óleo, Van Gogh “utiliza pinceladas grossas com restos materiais que revelam produção intensa e ressaltam sua manualidade fragmentada; destaca a presença de ciprestes, a celebração da vida campestre diante da frieza do existir, a dimensão religiosa como esperança de humanização”.

Enfim, suas pinturas enriquecem aos que tentam lhe entender e terminam por conhecer um pouco de si mesmos. Em “Comedores de batata” (1885), mostra a presença da solidariedade pela troca do mínimo, a imagem resguardada da criança, o embrutecimento da vida – provavelmente inspirada por sua vivência em minas de carvão. “Quarto em Arles” (1888) estampa a esperança pela presença de amigos. “A noite estrelada” (1889) tinge-se pelo azul-anil de forma encorpada, encanta os olhos, ignora a dimensão subjetiva – talvez represente a sua dor na cabeça. “Raízes de árvores” (1890) não tem sentido de referências, é um emaranhado de realidade intransitável que desperta diferentes opiniões em seus espectadores. “Trigal com corvos” (1890), as pinceladas são desleixadas e intensas, insere corvos que representam a morte sobre estrada, em meio à plantação de trigos, que, talvez, aponte uma “porta sem saída”!

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