No estudo de “Cultura e Subjetividade” – Componente Curricular do Curso de Psicologia da Uniube, o Professor Doutor Thiago Reis informa que “apresentar as artes como uma linguagem plural, repleta de significações simbólicas construídas sócio-historicamente, dá contornos à sensibilidade, à lógica dos sentimentos e, sobretudo, à possibilidade de estudar a subjetividade e a condição humana”. Cita que a “Tragédia Grega utilizada no teatro antigo [...] retira a sua força na tradução dos dilemas mais irreconciliáveis da existência, problematizando o sentido do existir e das ações humanas em um contexto, diríamos, cósmico”.
Diante dos infortúnios que, atualmente, assolam a humanidade, constata-se a dualidade Homem versus Deus em luta interminável, a dificuldade de racionalizar o afetivo frente à realidade do inconformismo e apela-se, aqui, para uma provável explicação pelas artes.
Fianco (2013), com base na obra “O nascimento da tragédia” (de Friedrich Nietzsche), comenta que na Grécia Clássica (séc. IV a.C.) destacaram-se três tragediógrafos: 1º- Ésquilo retrata a Tragédia Grega como justificativa estética da existência, mediante o pensamento mitológico e as ocorrências divinas, e substitui a liberdade humana pelo destino trágico; 2º- Sófocles aborda o divino por meio de adivinhos e oráculos; o desenvolvimento da vontade individual que se afirma a despeito das fatalidades; a purgação da angústia existencial pela representação teatral, e 3º- Eurípides enfoca a organização sociopolítica da pólis; usa a narrativa como instrumento pedagógico e moralizante – o palco de tensão da tragédia não é o mito, mas o coração humano, as paixões cotidianas das ruas de Atenas em seu ponto principal – o amor (Eros).
Nietzsche (1992) reconhece o valor de Ésquilo e Sófocles, mas atribui a Eurípides o enfraquecimento da Tragédia Grega devido ao desequilíbrio entre dois impulsos artísticos que são opções de realidade: 1º- o apolíneo (razão, beleza, endeusamento do princípio da individuação – a busca de si mesmo), e 2º- o dionisíaco (emoção, embriaguez, desejos, liberação sexual).
Observa-se que a cultura grega influenciou o pensamento de Nietzsche que busca o equilíbrio entre a valorização da beleza na vida Apolínea – envolvida pela razão, e a transgressão própria do Deus Dionísio. Este segundo caminho, como forma de vencer a covardia e o ressentimento, advindos da não aceitação da vida como se mostra; e a eleição do prazer para lhe dar sentido, pois o indivíduo é autor de sua própria vida. Nietzsche não ousaria abdicar de seu ateísmo em detrimento de Dionísio!?
Enfim, hoje, a Tragédia Grega ganha os palcos de toda a Terra! Percebem-se os objetivos de expurgar dores, de organizar países em relação aos interesses geopolíticos, bélicos e econômicos, porém em um crescente de agressividade, intolerância e autoritarismo. Líderes mundiais, desinibidos e egocêntricos, ostentam vidas Dionisíacas frente aos apelos da miséria humana e dos castigos infernais de Apolo.
Referências
FIANCO, Francisco. Literatura e interdependência: as funções sociais da tragédia grega. Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo, v. 9, n. 1, p. 108-124, jan./jun. 2013.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. O nascimento da tragédia, ou Helenismo e pessimismo/Friedrich Nietzsche; tradução, notas e posfácio J. Guinsburg - São Paulo, Companhia das Letras, 1992. p. 27-38.