Tenho o maior orgulho da nossa Câmara Municipal com seus 21 vereadores. Eu rodo muito por muitas cidades e posso afirmar, sem medo, que o nível sócio-político-cultural do nosso Legislativo é dos melhores entre as cidades brasileiras. Além do que, na nossa Câmara Municipal eu tenho excelentes amigos e muitas pessoas que admiro há tempos.
Advogados formam uma classe que para se dar bem na vida precisam, antes de mais nada, ser atentos e estar pensando sempre à frente, em resultados e consequências.
O que uma coisa tem a ver com a outra? Calma, caro leitor, já explico.
O renomadíssimo advogado Ruy Barbosa de Oliveira, nascido na Bahia em 1849, é objeto de estudo em nossos compêndios de História. Orador exímio, advogado de indiscutíveis talentos, diplomata, jornalista, escritor... nosso Ruy é um dos vultos mais admirados do passado.
Embora apontado como abolicionista fervoroso, paira sobre sua imagem uma polêmica dúvida. No ano de 1891, quando então ministro da Fazenda, Ruy Barbosa mandou cumprir seu ato oficial e ordenou a queima dos arquivos da escravidão no país. A anotação é da Wikipédia:
“No dia 14 de dezembro de 1890, um documento assinado pelo ministro anunciava a queima de todos os registros de cartório sobre compra e venda de escravos no Brasil, incluindo livros de matrícula, controles aduaneiros e registros de tributos. O documento também determinava que os registros fossem enviados para o Rio de Janeiro, capital da República, onde seriam queimados.”
Que o Ruy mandou incinerar, não restam dúvidas. A dúvida que ficou foi se o atento advogado temia uma avalanche de processos indenizatórios contra a União, movidos por proprietários de escravos espoliados pela Abolição ou uma igual avalanche de processos indenizatórios movidos pelos próprios escravizados e/ou seus descendentes... Ou ambas as coisas!
Como disse acima, advogados precisam ser espertos e o nosso “Águia de Haia” certamente não era nenhum tolo.
O Mestre Guido Bilharinho nos ensina que Ruy era muito considerado em Uberaba. Tanto que, quando foi candidato a presidente em 1910, fundou-se na cidade o jornal “O Civilista”, tendo à frente o médico e agente executivo Felipe Aché, além de Hildebrando Pontes, José Maria dos Reis, entre outros. Aqui na terrinha, Ruy teve a vitória nos votos, embora tenha perdido a eleição na época.
Sua morte, prossegue o Mestre Guido, provocou comoção entre os admiradores e daí veio a decisão de colocar seu nome em nossa praça principal, retirando-se o nome do antigo homenageado, que era Afonso Pena...
Embora respeitado como vulto histórico, admirado e querido aqui na cidade, tenho minhas sérias dúvidas se Ruy Barbosa passou por aqui alguma vez ou mesmo se tinha algum conhecimento maior dessas plagas.
O que sei, com certeza, é que mais da metade da população uberabense se autodenomina de origem negra e esse pessoal não olha o bom baiano com olhares muito amistosos...
É aqui que peço a palavra aos nossos queridos vereadores:
A Câmara Municipal representa nosso povo. A estatística mostra que a maioria desse povo é formada por afrodescendentes. A emoção ou os frêmitos civilistas emanados da campanha política de Ruy Barbosa já se perderam no tempo. E não há nada, nada repito, que se saiba de benefício a nós trazidos pelo famoso Águia!
Seria muito justo; muito lógico e muito mais coadunante com nosso passado homenagearmos essa imensa população negra uberabense, dando à nossa praça central o nome do ENGENHEIRO WAGNER DO NASCIMENTO. Esse sim, um uberabense que deixou suas marcas em nossa história; é lembrado com simpatia pela população negra e que ainda não tem seu nome gravado em algum próprio público.
Fica a sugestão e agora a devolvo! Com a palavra nossos amigos da Câmara Municipal.