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Convicções

Ricardo Motta
Publicado em 08/04/2022 às 20:25Atualizado em 18/12/2022 às 19:01
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Cresceram juntos, na mesma cidadezinha do interior de Minas. Estudaram juntos até o fim do Primeiro Grau. Depois, João ganhou o mundo. Foi complementar fora seus estudos. José, que tinha até melhor desempenho escolar, por ser mais disciplinado, permaneceu por ali. Formou-se em contabilidade. Abriu um bar bem aprazível, na praça central, em frente ao colégio onde estudaram. João desenvolveu-se nos estudos, graduou-se doutor, enriqueceu, viajou o mundo, proferindo palestras em congressos. Mas sempre voltava à sua querida terrinha. Visitava, sistematicamente, o bar do amigo José, onde sempre era especialmente recebido com o tira-gosto da sua preferência, pinga tradicional de alambique e cerveja bem gelada.

João sempre repetia ao amigo Zé, como o tratava: – Zé, já rodei esse mundo, mas sempre volto porque não existe lugar melhor nesse mundo que aqui, no nosso querido torrão.

Assim, muitos anos foram se passando e José sempre ali, do mesmo jeito, no mesmo bar, no mesmo ponto, na mesma vida cotidiana equilibrada. Cuidava sempre de apreciar o lindo crepúsculo, que podia ver diariamente de seu balcão. Até que um dia, João, ali retornando como sempre, ousou questionar José quanto à sua vida. – Você não deseja outra vida, sair, conhecer o mundo, buscar outros horizontes, crescer, ganhar mais? Não sei se me entende, mas vai morrer nessa vidinha?

Foi quando José, serenamente, singelamente e seguramente, mirou nos olhos do amigo João e respondeu: – Não. A rigor, você mesmo que me confirma essa convicção. Há anos retorna aqui, sempre-sempre a repetir que girou o mundo e que está certo de que aqui é o melhor lugar do mundo. Pois eh! Simplesmente descobri isso muito antes, e já fiquei logo por aqui. Tenho minha vida singela e pacata. Nada me falta. Tenho paz, sou feliz. Sei do mundo mesmo por aqui. Não tenho outra ambição. Será que me entende?

Dessa vez, José serviu-se de uma branquinha, o que não fazia em serviço. Levantou o copo à luz do dia, brindou ao amigo e mandou num único gole. Olhou João e disse: – É assim que se bebe, João, com certeza.

Após, sorriu triunfante.

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