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Um novo mundo

Em breve, chegaremos a um estado de delicadeza plena

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 23/11/2019 às 12:49Atualizado em 18/12/2022 às 02:13
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Em breve, chegaremos a um estado de delicadeza plena. Por “delicadeza” eu entendo o fim da truculência, da violência física, dos contatos forçados e dos constrangimentos entre as pessoas. Para abrir uma porta, por exemplo, nada de bater, de enfiar uma chave enferrujada numa fechadura velha, bastará digitar, delicadamente, os números correspondentes e a porta se abrirá como mágica. Pra que carregar aquele molho incômodo de chaves, que tanta gente perde, que rasga os bolsos, que some nos fundos de bolsas ou mochilas? Bastará decorar alguns números, códigos secretos inexpugnáveis, e pronto. Se for necessário abrir a fechadura, no caso de um esquecimento ou arrombamento, nada de atitudes violentas, um software, um programa de computador qualquer, vai abrir sem danificar o mecanismo. Bacana, não? 

Vamos imaginar que você está dirigindo um carro e pisou fundo no acelerador. Antes, um policial rodoviário iria pará-lo e dizer que você estava correndo, que ultrapassou a velocidade permitida. Iria até te dar conselhos. Que constrangimento desnecessário! Imagine você argumentando com o policial: “Eu? Não, meu carro estava dentro da velocidade permitida”. E o agente da lei te responde: “Sinto muito, mas meu equipamento acusou uma velocidade superior ao limite da rodovia”. Foi, não foi, foi, não foi… Uma situação desagradável! Daqui pra frente, e cada vez mais, será uma máquina, um radar escondido, sutil, preciso, que vai te multar — e nada de contestar, a fotografia enviará data, local, hora e velocidade constatada. O problema é seu. Quer recorrer? Acesse a Internet, entre no site do órgão responsável, preencha um requerimento e aguarde no conforto do seu lar. Muito melhor!

Lojas cheias, vendedores te assediam e te empurram mercadorias goela abaixo? Pessoas abrutalhadas te incomodam? Esbarrões com desconhecidos? Nada disso! Esse tempo ficou no passado. Bobagem sair de casa para comprar comida, roupas, sapatos, livros, bolsas, etc. Existem mecanismos que facilitam o dia a dia das pessoas ocupadas, bastando dar um clique ou movimentar os dedos no display de um celular. O pagamento? Informe o número do seu cartão, da sua conta bancária, transfira seu dinheiro sem se levantar da poltrona. Cuidado com as fraudes! 

Está cansado, teve um dia estressante? Pensou em sair, dar um passeio no parque, na praça? Não, o parque não existe mais, foi fechado por má conservação, você pode ser assaltado na praça, o banco estará sujo de cocô de pombos… Sente-se diante do imenso aparelho de TV que ocupa quase toda a parede da sua sala e escolha sua paisagem favorita, seu cenário perfeito. Está com fome, solidão, tristeza ou depressão? À sua escolha, aplicativos oferecem desde receitas fáceis até aconselhamento psicológico. Vamos! O que você está esperando? Não tem com quem conversar? Existem aparelhos que fazem esse serviço. Quer ouvir a voz humana? Idem. Quanta delicadeza!

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