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Palavrão

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 02/08/2021 às 18:17Atualizado em 18/12/2022 às 15:16
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Renato Muniz B. Carvalho

Sim, é isso mesmo que você leu, vamos falar de palavrão. Não se trata de palavras compridas, mas de nomes feios, ofensas, xingamentos, injúrias e impropérios, seja qual nome tenham certas palavras ditas “indecentes”. Reconheça-se que muitas delas são usadas para agredir alguém, o que não é, de modo algum, a intenção deste texto.

Algumas confidências familiares: na minha infância, meus pais nunca gostaram de palavrões. Na casa do meu avô não era permitido, especialmente quando apareciam visitas. Na casa de uns parentes próximos, os palavrões corriam à solta, era costume, o que nos divertia um bocado, mas também nos deixava constrangidos. Alguns dos parentes diziam que não falávamos palavrões porque minha mãe era paulista. Nunca entendi a relação.

Na minha casa, a oposição aos termos considerados vulgares e agressivos não se colocava como censura, mas como indicação de civilidade. A preocupação era com o respeito ao próximo. O assunto, embora parecesse corriqueiro, sempre gerava controvérsias. Certa ocasião, na casa de uns conhecidos meus, presenciei uma cena deplorável: um menino foi obrigado a ir ao banheiro para lavar a boca, com sabão, por ter ousado proferir um palavrão.

Não sou adepto dos palavrões, mas em certas ocasiões não tem jeito. Por exemplo, quando dou uma topada distraída num móvel, machucando os dedinhos dos pés. É fatal! O palavrão sai mesmo. Acho que acontece com muita gente boa, a explosão é inevitável. Outra ocasião é quando perco chaves ou documentos. Onde coloquei? Não acho, fico irritado e o palavrão aparece inocente, mas raivoso, indignado. Ainda bem que é comigo mesmo, não ofendo ninguém.

Não usar palavrão era indicativo de boa educação. Usar era sinônimo de grosseria, desrespeito. Hoje, percebo o quanto de controle social existia nisso. Descobri que, com o passar do tempo, os termos foram mudando e as circunstâncias, idem, mas o costume permaneceu na sociedade brasileira.

Quando criança, pensando baixinho, minha preocupação era descobrir uma possível hierarquia entre os palavrões. Havia alguma espécie de etiqueta, ou manual de uso, dos palavrões? Em quais circunstâncias usar, qual o mais apropriado para cada ocasião e, principalmente, qual deles era o mais contundente, aquele que causaria o maior impacto na pessoa a ser ofendida?

Muitos termos eram considerados obscenos ou escatológicos, outros, mera demonstração de mau gosto, falta de criatividade ou dificuldade com a língua. Em certos casos, proferir impropérios revelava resistência aos mais velhos, à autoridade, uma tentativa de ganhar autonomia e entrada no mundo adulto, com seus códigos e terminologia. Ofender alguém era demonstração de valentia, bravata. Não foi outro motivo que me levou a escolher “banana” como o pior dos palavrões que eu podia usar, embora nunca tenha me esquecido da questão do respeito ao próximo. Se alguém quer usar, use. Mas há os que usam e abusam. Talvez precisem resolver demandas da infância ou devam tentar ampliar o próprio vocabulário.

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